segunda-feira, 26 de julho de 2010

Num Domingo de Intenso Calor




Juntamo-nos em família, depois de meses rogando para que isso acontecesse, mas engasgados pelo dramatismo de quem subiu bem alto ainda recentemente sem cordas para o segurarmos, deixando-nos fisicamente, não dando azo a reagrupar-nos como antigamente.
Mas desta vez escolhemos o mesmo local pela terceira vez e cada um com a sua bicicleta pedalamos pela Ecopista que nos levou até Ponte da Barca, num pedalar de 44km, ida e volta enquanto as tias tratavam do almoço, nós enfrentávamos o calor com o rio a rir-se da nossa loucura.
Na etapa de ida tudo eram sorrisos. Dava para tudo. Pequenos, jovens e menos jovens riam-se dos pequenos contratempos enquanto tudo eram rosas, mas mais para a frente já as bicicletas não obedeciam e o regresso prematuro era infelizmente o único destino.
Ficaram dúzia e meia de almas na chegada a Ponte da Barca e depois de dois finitos e um bolinho de bacalhau dentro do triguito que soube pela vida, toca a regressar para o almoço que distava 22km.
Logo os campeões da família nestas andanças de pedalada, tomaram a dianteira, num ritmo que não deixava hipóteses de ser seguido.
E claro o pelotão esfrangalhou-se e vi-me completamente só no meio daquele sol infernal e já sem forças para pedalar.
Senti os lábios a secarem como um naufrago e já com pouco discernimento, enganei-me no trajecto. E fui dar ao rio num caminho de encontros proibidos, porque os rodados dos automóveis eram bem visíveis.
Já não tinha forças para pedalar de volta ao local onde me enganei, por isso trouxe a bicicleta pela mão e encostei-a a um canto deitando-me na sombra de um chaparro do Minho, para descansar e tentar visionar o caminho de regresso num labirinto de três entradas, não contando com a que segui em frente: em frente para nada!
Ouvi vozes, ou pensei ouvir.
Deixa lá, alguém aqui chegará e logo retomo a pedalada. Por agora é descansar porque água nem vê-la, só a do rio e já estava longe.
Tornei a ouvir as vozes e como ninguém aparecia, resolvi indagar para me pôr daqui para fora senão o almoço já era.
Alguém piquenicava ali bem perto e claro o rio fazia as delicias dos pequenos uns metros mais abaixo. Pedi apoio para o meu regresso e como era esse o caminho certo, toca a pedalar que oito longos quilómetros me aguardavam.
Na façanha louca de chegar o mais rápido possível enfrentei a ferocidade no seu ponto mais alto do sol que queimava em dois segundos.
Claro não tinha sombra para fugir dele e numa secura doida visionei os últimos dois quilómetros, já com o rio apinhado de veraneantes que por baixo da frescura das árvores, que lhes deram um colorido através do enfeite pelas centenas de mesas a cheirar a frango e coelho estufados. Levaram-me a parar bruscamente e quase piedosamente pedir água a um casal que lamentavelmente me disse que não tinha. Eram só copos com restos de vinho.
Por fim, é, mesmo por fim! Cheguei pedalando custosamente, com o rabo tão dorido que mais parecia violado por uma mão cheia de capangas. Com os lábios colados pela baba seca, que me deixou numa figura a deixar reparos. E sem conseguir dizer palavra, dado só me ocorrer agarrar à garrafa da água, sentei-me tentando comer o que já estava colado ao tacho.

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