terça-feira, 3 de julho de 2012

Barcelos no Meio onde não está a Virtude



A minha cidade pequena, pequenina. Que cabe numa mão de Deus, deixando a outra para apontar os dedos aos pecadores e eles são tantos, que se transformam num oceano sem fim à vista.
É um círculo de meia dúzia de monumentos com história.
De uma mão cheia de edifícios que valerá a pena visitar. E de um saco de linho cheio de pessoas com integridade para focar.
Vangloria-se de ser a cidade a receber a primeira romaria do ano, as Festas das Cruzes.
Semanalmente realiza-se nesta concha citadina a maior feira do País, que ocupa meia cidade e deixa a outra meia, a rebentar pelas costuras em matéria de trânsito.
É o concelho maior do País no que diz respeito ao número de freguesias (oitenta e nove), algumas delas nunca lá parei, apesar de viver não muito longe e passar bem perto das suas entranhas.
Capital do hóquei em patins, durante uma década e só deixou de o ser, devido ao não saber perder. Quando as vitórias eram a chama do prazer em vencer.
Tem o galo como símbolo máximo, de uma cidade que se coroou como a rainha do artesanato.
Onde o barro, com as peças que de lá nasciam pelas mãos das artesãs, correram mundo e idolatraram essas mulheres vindas do meio da lama barrenta e hoje são o expoente histórico, que enriquece esta cidade, abafada no meio do que afasta o povo, deixando-a deserta de vida e de movimento.
O abafo é intransponível e leva as pessoas a fugirem para as praias em quinze minutos apenas, refrescando-se no Verão. E buscando o sol e a brisa do mar, nos dias que não dá para andar de corpo ao léu.
Noutra direcção, a capital do distrito, Braga.
Em quinze minutos apenas, leva os jovens de encontro às noites de música e dança. Com calor humano á mistura e muita estupidez junta, deixando a minha cidade despojada de alegria e vida.
Tem o Sameiro e o Bom Jesus para levar os devotos fervorosos em peregrinações constantes de apego à fé e logo nestas horas de vida difícil e de vícios sem cura para muitos miúdos.
Um pouco para sul temos a cidade onde Portugal nasceu, Guimarães.
 Repleta de shoppings a cheirar a novo e abundância em pôr a vista a pastar, por entre lojas e lojas, que levam a perder a cabeça, a quem ainda tem um pé de meia, amealhado em tempos não muito distantes.
Mais distante mas nada que esfrie o entusiasmo, surge outra capital, Viana.
Entrada para o alto Minho, caminho aberto para paisagens e comes e bebes de encher os olhos e estômagos. A frescura no Verão, por entre o verde deslumbrante e caça abundante.
Diz o povo que no meio está a virtude!
 Mas nós nesta pequena cidade, que abraça o Cávado a quinze minutos da foz, acho que o único bem histórico que nos calhou em sorte. Estamos atados de pés e mãos e não nos despregamos das amarras que nos encolhem neste marasmo citadino.
Queremos dar um passo do tamanho da lua para fazer crescer a cidade dentro da própria cidade.
Construir-lhe janelas para entrar o céu azul que alegre quem cá vive e quem nos visita. Para irem e voltarem com o mesmo entusiasmo com que a deixaram.

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