Para o Colégio Menino de Deus, era o grande dia.
Comemorava setenta e cinco anos de existência em Barcelos,
onde é uma referência. E por entre diversas actividades que preenchiam esse dia
marcante para o colégio. A peça de teatro retratando toda a história da Instituição,
era o momento alto da consagração.
E nada melhor que as crianças do colégio, juntamente
com os pais para representar em palco os momentos áureos do Menino de Deus.
O São Bento
Menni, local escolhido para o efeito, estava repleto de convidados e nos
lugares da frente lá estavam as altas personalidades cá da terra: Presidente da
Câmara, Vereador da Cultura, Clérigos, figuras civis e militares importantes
etc.
Foram dias seguidos de ensaios e uma grande
dedicação da nossa parte.
Eu fazia de
Jesus Cristo e a minha intervenção era o final da peça e somente precisava de
abrir os braços, simbolizando a célebre frase de Jesus “deixai vir a mim as
criancinhas” por isso de ensaios só foram precisos dois.
O nervosismo era enorme entre todos nós, a hora do início
tardava em chegar.
Os agradecimentos e as homenagens não faltavam no discurso
de abertura, pela parte da responsável pela instituição. E nós cada vez mais
nervosos e impacientes não víamos o momento chegar.
Finalmente o pano subiu e a peça começou.
Era um vai vem de figurantes nos bastidores, uns
abandonavam o palco entre aplausos e já outros entravam para dar continuidade ao espectáculo.
O publico estava agradado e nós muito contentes. O tempo passava e eu
como só no final entrava, dava apoio e incentivo aos outros pais.
A peça estava a chegar ao fim, faltava a minha entrada.
Finalmente, entrei em palco, ainda com o pano
descido, feito Jesus Cristo.
Como sou
loiro cabelo grande (na altura) e tenho barba, era a melhor personagem que se
poderia encontrar. E de braços bem abertos esperava o pano subir para encerrar
a peça.
Ele subiu, fiquei virado para a plateia cheia de
gente, reconheci a minha família e todas as individualidades presentes, cá da
terra.
Todo eu
tremia, parecia uma vara verde, dava a sensação de estar em cima de uma enorme
mola, pronta a soltar-se e enviar-me para cima das pessoas na plateia.
E as criancinhas não entravam!
Foram segundos infernais, nunca me tinha visto
noutra. E continuava a tremer, sentia que ia desfalecer.
Meu Deus, as crianças nunca mais entram. Fá-las
entrar senão quem sai sou eu!
Fiquei assim
estático enfrentando toda aquela gente durante dois infinitos minutos (que
pareceram horas), respirando fundo sistematicamente.
Por fim entraram as crianças, uma delas era a minha
filha e a cena prosseguiu.
As crianças
dançavam e cantavam á minha volta.
Eu soltei-me
rapidamente (a musica e a dança muito contribuiu) e rodando, colocava as mãos
nas cabecitas das crianças como Cristo fazia, ao mesmo tempo sorrindo para
elas.
Envergava uma
túnica branca com um grande lenço vermelho sobre os ombros.
Elas vestidas
às cores nos seus vestidos de ballet, pareciam flores. Fazendo do palco um
jardim em movimento.
Tudo corria bem, as crianças davam tudo por tudo,
podíamos estar ali até á exaustão…… e por fim terminou!
Aplausos ensurdecedores da plateia. Alegria imensa
de todos os que estavam nos bastidores e a escuridão caiu, porque o pano
baixou!
Foi o momento alto do Menino de Deus que nestes já
longos anos, que permanece em Barcelos, embala bebés de tenra idade e solta-os
para a vida, quando a escola os chama.
Alguns neste momento continuam o seu percurso, já
que o Menino de Deus, possuiu instalações para quem desejar iniciar o seu
percurso escolar.
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