quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Tantos dias Juntos e mais Iremos Ficar


Foi num dia igual a tantos outros, num fim de tarde quente, depois de receber os convidados. Que parti num cortejo de automóveis (não sem antes uma vizinha, me desejar felicidades, atirando-me um beijo quando descia as escadas para entrar no carro, foi um gesto que nunca mais me esqueço), em direcção à igreja, que ficava numa aldeia pequenina com casas embutidas no meio do pinheiral, ou “plantadas” nos campos divididos por muros em pedras, que dividiam as parcelas de terrenos de cada um.
A aldeia recebeu-nos silenciosa, talvez querendo mostrar a nós pessoas, que vivemos outro mundo que não este. A forçada solidão que caracteriza a ligação com o seu povo, que a abandona pela madrugada, caminhando nas suas veias para bem lá no fundo perfurar os seus campos, onde tiram o sustento para matar a fome aos filhos e só pela noitinha regressar exaustos e sombrios, às suas humildes casas, indiferentes e mudos, tamanho o cansaço que emanam.
Mas como pedimos para lá casarmos. Oferece-nos a sua Igreja Paroquial, que é lugar de uma fé com que os seus habitantes se confortam e se aliviam dos males pequenos ou grandes, que invadem as suas almas. Deixam tudo, para lá se reunirem com Deus e saem cheios de esperança e alegres, a caminho dos seus trabalhos e dos seus lares.
Foi no seu altar sagrado, que me encontrei com a minha noiva! Estava tão bela e tão simples! Fiquei tão orgulhoso de ter uma noiva tão bela!
Juntamo-nos lado a lado e esperamos calmamente felizes e cientes do nosso amor, que aquele padre nos casasse, unindo-nos para sempre.
Quero recordar-me sempre que possa, das pessoas que me acompanharam e a felicidade que honestamente me desejaram e para isso ficam as fotos, que embelezam o meu álbum e ao folheá-lo, me traga constantemente uma lagrimazita de emoção, revendo cada foto cada momento.
Deixo esta aldeia já com a minha esposa ao meu lado, liderando um cortejo cada vez maior que vai cercando a aldeia. E parados no cruzamento que dá acesso à estrada nacional, fico com a visão, que isolamos toda a aldeia, não deixando penetrar quem quer que seja.
Os carros rolam lentamente, olho as bermas desta estrada ladeada de pinheiros e eucaliptos e penso no que será a minha vida daqui para a frente.
Começo a ver a minha casa, que ainda não sei onde será!
 E as longas noites que juntos passaremos, murmurando-me enquanto fazemos amor, a felicidade que a envolve e que iremos ser felizes para sempre……
 Mas o cortejo começa a rolar bruscamente e eu rolo num sobressalto para a realidade, conduzindo-me ao restaurante acolhedor com que presenteio os meus convidados.
E no meio de tanta comida e bebida, conversas e brincadeiras da praxe. Brinda-se a tudo quanto é sinónimo de felicidade. O champanhe jorra na imensidão das taças, prontas a satisfazer um possível desejo. Procuro a taça da minha esposa (agora é mesmo) e sinceramente peço-lhe para sermos felizes.
O final aproxima-se, os convidados retiram-se!
Fico mais um pouco com os meus padrinhos e olhando a sala já vazia, volto de novo a vaguear no mundo da imaginação.
Imagino friamente todo o caminho que terei de percorrer!
Mas por pouco tempo, já que uma voz suave pela felicidade, faz-me abrir os olhos com alegria.
É ela que me chama! É ela que quer estar comigo, mostrar-me no meio de um dia cheio de amor, o quanto me deseja, o quanto a faço feliz!
E como tudo na vida, o primeiro dia cheio de sol, foi tão belo e tão simples. Onde só fizemos amor e recordamos os passos que demos na véspera.
Foi um casamento igual a tantos outros.
 Mas foi o meu! Há vinte e quatro anos.

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