Foi num
dia igual a tantos outros, num fim de tarde quente, depois de receber os convidados.
Que parti num cortejo de automóveis (não sem antes uma vizinha, me desejar
felicidades, atirando-me um beijo quando descia as escadas para entrar no carro,
foi um gesto que nunca mais me esqueço), em direcção à igreja, que ficava numa
aldeia pequenina com casas embutidas no meio do pinheiral, ou “plantadas” nos
campos divididos por muros em pedras, que dividiam as parcelas de terrenos de
cada um.
A
aldeia recebeu-nos silenciosa, talvez querendo mostrar a nós pessoas, que
vivemos outro mundo que não este. A forçada solidão que caracteriza a ligação
com o seu povo, que a abandona pela madrugada, caminhando nas suas veias para
bem lá no fundo perfurar os seus campos, onde tiram o sustento para matar a
fome aos filhos e só pela noitinha regressar exaustos e sombrios, às suas
humildes casas, indiferentes e mudos, tamanho o cansaço que emanam.
Mas
como pedimos para lá casarmos. Oferece-nos a sua Igreja Paroquial, que é lugar
de uma fé com que os seus habitantes se confortam e se aliviam dos males
pequenos ou grandes, que invadem as suas almas. Deixam tudo, para lá se
reunirem com Deus e saem cheios de esperança e alegres, a caminho dos seus
trabalhos e dos seus lares.
Foi no
seu altar sagrado, que me encontrei com a minha noiva! Estava tão bela e tão
simples! Fiquei tão orgulhoso de ter uma noiva tão bela!
Juntamo-nos
lado a lado e esperamos calmamente felizes e cientes do nosso amor, que aquele
padre nos casasse, unindo-nos para sempre.
Quero
recordar-me sempre que possa, das pessoas que me acompanharam e a felicidade
que honestamente me desejaram e para isso ficam as fotos, que embelezam o meu
álbum e ao folheá-lo, me traga constantemente uma lagrimazita de emoção,
revendo cada foto cada momento.
Deixo
esta aldeia já com a minha esposa ao meu lado, liderando um cortejo cada vez
maior que vai cercando a aldeia. E parados no cruzamento que dá acesso à
estrada nacional, fico com a visão, que isolamos toda a aldeia, não deixando
penetrar quem quer que seja.
Os
carros rolam lentamente, olho as bermas desta estrada ladeada de pinheiros e
eucaliptos e penso no que será a minha vida daqui para a frente.
Começo
a ver a minha casa, que ainda não sei onde será!
E as longas noites que juntos passaremos,
murmurando-me enquanto fazemos amor, a felicidade que a envolve e que iremos
ser felizes para sempre……
Mas o cortejo começa a rolar bruscamente e eu
rolo num sobressalto para a realidade, conduzindo-me ao restaurante acolhedor
com que presenteio os meus convidados.
E no
meio de tanta comida e bebida, conversas e brincadeiras da praxe. Brinda-se a
tudo quanto é sinónimo de felicidade. O champanhe jorra na imensidão das taças,
prontas a satisfazer um possível desejo. Procuro a taça da minha esposa (agora
é mesmo) e sinceramente peço-lhe para sermos felizes.
O
final aproxima-se, os convidados retiram-se!
Fico
mais um pouco com os meus padrinhos e olhando a sala já vazia, volto de novo a
vaguear no mundo da imaginação.
Imagino
friamente todo o caminho que terei de percorrer!
Mas por
pouco tempo, já que uma voz suave pela felicidade, faz-me abrir os olhos com
alegria.
É ela
que me chama! É ela que quer estar comigo, mostrar-me no meio de um dia
cheio de amor, o quanto me deseja, o quanto a faço feliz!
E como
tudo na vida, o primeiro dia cheio de sol, foi tão belo e tão simples. Onde só
fizemos amor e recordamos os passos que demos na véspera.
Foi um
casamento igual a tantos outros.
Mas foi o meu! Há vinte e quatro anos.
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