A festa anual de uma grande cidade.
Onde a queda do muro deu-lhe a alegria
cortada, logo após a guerra a ter literalmente isolada, com mais de três metros
em direcção ao inferno, de betão.
Uma festa
tem sempre um quê de encanto e para quem a visita pela primeira vez, nem a chuva.
Nem a trovoada, os encolhem para curtirem os festejos lançados ao virar de cada
esquina.
Hoje em plena festa, vi várias crianças
passeando nos carrinhos pelas artérias do certame, apinhada de gente de vários países.
Crianças chorando.
Quem sabe, com um apetite devorador. Mas os
pais assistindo aos artistas de rua, sentiam ainda não chegar a hora de dar de
mamar ao rebento.
Crianças num sono profundo.
Só os bebés o possuem, já que suportar o
burburinho dos stands, de onde serviam canecas atrás de canecas de cerveja,
para matar a sede. Não é para todos os petizes.
Crianças felizes.
Olhando
a multidão, não sei o que pensavam. Não sei o que lhes ia naquele cérebro ainda
a soldar-se para aguentar as cabeçadas da vida.
Crianças rabugentas.
Abrindo
os braços para os balões de todas as cores e de varias figuras e num abrir e
fechar de olhos, berrando porque deixaram que o balão escapasse por entre
aqueles deditos tão pequeninos.
Crianças a quererem saltar dos carrinhos.
Numa espécie
de rambos de meio palmo. Para gatinharem atrás dos bonecos de peluche, porque
antes de mãos estendidas não conseguiam apanhá-los pelas orelhas.
Crianças simplesmente deixando-se ir no
embalo do carrito.
Fosse às
curvas fugindo ao aglomerado das pessoas. Fosse carregado de bugigangas
compradas, com destino logo traçado, quando deixassem de ser novidade.
Crianças dando os primeiros passos.
De mochilinha às costas, que riqueza. Não resisti
e peguei-lhe na mão, senti-me por momentos feliz lembrando-me dos meus
pequenotes. E claro, quando olhou para mim fez beicinho e logo a larguei.
Mas
houve uma que brinquei e desafiei. Enquanto o pai á minha frente numa fila para
comprar um pão de alho com tomate e queijo (foi o que pedi), esperava pela sua
vez.
O puto agarrava-se ao dedo e mamava que se
fartava.
E eu cismei em que ele largava por momentos o
dedo.
Olhou-me á corneteiro.
Enfrentei-o á pistoleiro.
Dei uns sorrisos e fiz umas brincadeiras com
os dedos.
Aproximei-me um pouco e como tenho cara de
poucos amigos, o miudinho ficou pasmado e largou por momentos o dedo.
Ficou com o polegar no ar e realçou os olhos
azuis. Que beleza de criança.
Que alegria estar no meio desta criançada.
Mais uma vez senti, que irei ser criança até morrer.
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