Tudo tão rápido que só quando chegou à casa mortuária,
é que me abri num lago de lágrimas e deitei cá para fora aquele nó que me
apertava a cada dia que a ia visitar.
Acompanhei-a a par e passo.
Acompanhei a sua luta para fazer frente ao destino
traçado.
Ao milagre
que não aparecia e nunca iria chegar.
Às preces hora a hora em promessas inimagináveis,
mas evidentemente compridas se a dor lacerante se fosse para onde o diabo se
esconde da cruz.
Há tímida melhoria que a trouxe a casa por
uns dias, os últimos que viu a luz do sol banhar o jardim onde se patuscava uns
pedaços de carne e bebia-se uma vinhaça, não muito antes da terrível noticia,
que abalou quem mais não merecia.
Ao último dia, última noite!
Sentado ao seu lado, assistia incapaz de
soltar qualquer som.
Era um silêncio da morte.
Ela estava ali presente pronta para levar a
minha mana.
Sentia-a, aquela desgraçada!
Olhava o escuro e tentava perscrutar algo que
sinalizasse a sua presença.
Impossível nada!
Nem uma aragem, nem um murmuriozinho que
fosse, para eu lhe enfiar um murro e corrê-la dali, para fora.
Mas eu sabia que ela ali estava, pronta para
levar a alma da mana.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
Outra seguiu o mesmo destino no do outro lado,
que tentava sondar, onde estava a besta maldita.
Levei as mãos ao rosto, limpei as lágrimas
que já faziam tapete do meu rosto e beijei a mana pela última vez. Deixando
aquele quarto, sabendo que a morte esperava pela minha saída para terminar de
uma vez por todas com a vida da mana.
A vida por vezes é madrasta demais.
Confere-nos um cenário macabro de fragilidade intensa.
Lutamos para que ela deixe de nos atormentar
e vá procurar descarregar a sua raiva noutro lugar, bem longe. Mas mesmo bem
longe da nossa vista. E nunca mais nos corroía a paciência.
Mas a vida é a vida!
Foi criada para o bem e para o mal. É fugir
de nos encontrarmos no meio da sua fúria. Não à milagreiro que nos salve de um
desaparecimento prematuro.
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