domingo, 25 de janeiro de 2009

A Previsão do Futuro


De muitas vezes olhar para os meus pais já na casa dos setenta anos, pergunto a mim mesmo como irá ser a minha figura quando atingir a fase deles.
Mas primeiro terei que passar pelo dilema da reforma e se não houver nada que altere o normal percurso da minha vida profissional, a reforma chegará aos sessenta e cinco anos.
Chegará porque é inevitável! Todos temos um começo e um fim!
A vida não pára e as contingências da mesma, não se compadecem com a forma de pensar de cada um. Acabou o percurso, é o fim da linha e à que dar o lugar a outro.
Bom servidor é aquele que se deixa substituir por outro, quando a idade assim determina. Estou preparado para isso!
Quando o momento chegar, aí vou eu de trouxas às costas rumo à inactividade, à monotonia de todos os dias.
Só terei a preocupação, apenas em não pensar, que sou um a mais no meio de tantos deste PAÍS que é o meu. E a quem dei muito de mim enquanto pude e só deixarei de dar, quando para tanto me faltar as forças.
Serei sempre igual a mim mesmo. Pensarei isso sim, porque se penso. Logo existo!
E olhando para o que hoje sou, convenço-me que alcançarei a performance que hoje atinjo, ou seja:
Serei um idoso charmoso. Pronto a mostrar às idosas e menos idosas que ainda sou apetecido. Apesar de saber que a minha bela mulher de agora, será a velhota ainda mais bela dessa altura.
Serei portador de uma saúde boa para a idade, com pouca barriga, porque desde muito novo pratiquei desporto e sempre que posso faço tudo a pé e assim mantenho um bom estado físico que me permite caminhar calmamente sem arrastar os pés pelos passeios e ajudar os amigos dessa altura que pesarosamente arrastam-se até ao café, para passar o tempo num jogo de sueca, a valer o cafézito da tarde.
Não usarei dentadura postiça tenho uns dentes fortes que irão acompanhar-me pela vida fora, por isso regularmente vou ao dentista e assim sendo poderei falar, sorrir abertamente, porque não mostrarei as falhas entre caninos.
Irei buscar os meus netos ao colégio, (como fui dia após dia buscar os pais deles). E irei contar-lhes todos os acontecimentos que ficaram registados na minha memória, das traquinices dos pais. Tenho tantas que encherão as longas tardes de Verão, mais os frios e chuvosos dias de Inverno e com toda a certeza saberei no fundo de mim mesmo que serão mais meus filhos, que filhos dos meus filhos!
E porquê esta tão peremptória convicção!
Porque hoje assisto aos casais (que poderão ser os meus filhos nesse futuro), à abnegada concentração nas suas carreiras profissionais. Base da sustentação de uma família.
Onde os pais precisam de sair bastante cedo e só regressam para além do encerramento dos colégios. Os avós são os bastiões do aconchego dos netos até os pais os virem buscar. Já com banhito tomado, papinha dada e o soninho a tomar contas deles refastelados no conforto dos vovôs.
Também os divórcios, hoje infelizmente já muito banal. Atiram os filhos para o colo dos avós, muitos deles com traumas profundos de ligações tempestuosas, deixando que os velhos sarem as mazelas e façam de pais e avós. E os criem com todo o amor que a vida lhes ajudou a armazenar. Até que a vida de algum deles (os pais) ganhe estabilidade para que os roubem do laço afectivo dos avós e voltem para um lar onde irão encontrar uma mãe que já não a beijam á largo tempo e um homem que não era o seu pai.
Continuarei no meu apartamento com aquecimento, de mão dada com a velhota vendo as novelas onde os actores principais irão ser os jogadores de futebol das grandes equipas. E todas as comodidades normais para dois idosos prontos a enfrentar um dia de cada vês, porque trabalhei toda a vida e como tal terei direito a uma reforma. (Se até lá a Segurança Social não entrar em ruptura) que me possibilite estas pequenas e necessárias condições e continuarei a não utilizar o elevador, porque felizmente vivo no primeiro andar e preciso de exercício para desentorpecer as pernas.
Continuarei a ser um cidadão atento á transformação da sociedade mais justa e social que me viu nascer.
Na fortemente consumista e insensível que ilumina os cada vez mais ricos e ofusca os cada vez mais pobres em que vivemos.
E como me preparei juntando um pé-de-meia razoável. E durante muitos anos resguardei-me com um seguro de vida e de saúde, que me deu esta qualidade de vida.
Assistirei sereno e despreocupado até que os mais necessitados se revoltem em prol de uma vida digna e razoável, que todos os governos deviam de obrigatoriamente proporcionar.
Vou pedir aos meus filhos como prenda, por ocasião do cinquentenário do meu casamento, um colchão ortopédico como o que tenho hoje (que me custou muitos euros), para continuar a ter uma boa coluna e grande relaxe físico. E assim manter o silencio para com os vizinhos quando alço a perna para aquecer a velhota e sossegar a minha excitação.
Como rezo quase todos os dias, mais a esposa que reza pelos dois, para que não venha a padecer de nenhum mal incurável. Acabarei a minha vida como começou!
Sem dor nem sofrimento!
Abri os olhos para o mundo no mês de Maria.
Fechando-os pela última vez quando Deus o quiser.
Para os abrir no Céu como me prometeram e olhar para a terra tentando descobrir o lugar quando chegar a minha vez. Onde vou novamente ganhar uma nova vida.

4 comentários:

OnlyMe disse...

Estou a ver que a inspiração anda por aqui e ainda bem que caiu em ti próprio. É muito bom pararmos para pensar na nossa existência e analisarmos os vários momentos da nossa vida. Pela forma como te descreveste, "modestia" deve ser o teu nome do meio ;). Estou a brincar claro, porque acho óptimo gostarmos de nós próprios e não termos medo de o mostrar a ninguém.
Gosto muito da tua escrita e é sempre um prazer te ler.

Jinhos :)

Nuno Pereira disse...

Se eu não gostar de mim quem gostará!
O que eu escrevo é o que sinto no momento!
Sinto-me bem! Tudo corre bem! É só deixar correr o tempo e desfrutar dos prazeres que esta vida me proporciona. Apesar de toda esta barafunda de crise que nos assola.
Obrigado por me "aturares", é sempre positivo alguém reconhecer ter prazer em ler as minhas inspirações.

OnlyMe disse...

Eu nunca "aturo" ninguém. Tenho mau feitio suficiente para isso ;). Se me conhecesses um pouco melhor sabias que nunco faço "fretes" a ninguém. Atingi um patamar da minha vida que me dá esse estatuto, ou seja, não preciso de engolir sapos vivos, só apenas aqueles que tem mesmo de ser, os que não podemos fugir pelas consequências que isso pode trazer.
Ainda não tive tempo de ler o post mais recente. Depois, se me apetecer, deixo comentário :P
Jinhos :)

Nuno Pereira disse...

Grande mulher!
Senhora do seu nariz............
Já agora conhecer-te, seria uma honra!