De muitas vezes olhar para os meus
pais já na casa dos setenta anos, pergunto a mim mesmo como irá ser a minha
figura quando atingir a fase deles.
Mas primeiro terei que passar pelo
dilema da reforma e se não houver nada que altere o normal percurso da minha
vida profissional, a reforma chegará aos sessenta e cinco anos.
Chegará porque é inevitável! Todos
temos um começo e um fim!
A vida não pára e as contingências da
mesma, não se compadecem com a forma de pensar de cada um. Acabou o percurso, é
o fim da linha e à que dar o lugar a outro.
Bom servidor é aquele que se deixa
substituir por outro, quando a idade assim determina. Estou preparado para
isso!
Quando o momento chegar, aí vou eu de
trouxas às costas rumo à inactividade, à monotonia de todos os dias.
Só terei a preocupação, apenas em não
pensar, que sou um a mais no meio de tantos deste PAÍS que é o meu. E a quem
dei muito de mim enquanto pude, mesmo quando ele me arrumou para um canto,
rotulado de velho para a idade. Mas novo para a reforma. E só deixarei de dar,
quando para tanto me faltar as forças.
Serei sempre igual a mim mesmo.
Pensarei isso sim, porque se penso. Logo existo!
Irei buscar os meus netos ao colégio,
(como fui dia após dia buscar os pais deles). E irei contar-lhes todos os
acontecimentos que ficaram registados na minha memória, das traquinices dos
pais. Tenho tantas que encherão as longas tardes de Verão, mais os frios e
chuvosos dias de Inverno e com toda a certeza saberei no fundo de mim mesmo que
serão mais meus filhos, que filhos dos meus filhos!
E porquê esta tão peremptória
convicção!
Porque hoje assisto aos casais (que
poderão ser os meus filhos nesse futuro), à abnegada concentração nas suas
carreiras profissionais. Base da sustentação de uma família.
Onde os pais precisam de sair bastante
cedo e só regressam para além do encerramento dos colégios. Os avós são os
bastiões do aconchego dos netos até os pais os virem buscar. Já com banhito tomado,
papinha dada e o soninho a tomar contas deles refastelados no conforto dos
vovôs.
Também os divórcios, hoje infelizmente
já muito banal. Atiram os filhos para o colo dos avós, muitos deles com traumas
profundos de ligações tempestuosas, deixando que os velhos sarem as mazelas e
façam de pais e avós. E os criem com todo o amor que a vida lhes ajudou a
armazenar. Até que a vida de algum deles (os pais) ganhe estabilidade para que
os roubem do laço afectivo dos avós e voltem para um lar onde irão encontrar
uma mãe que já não a beijam à largo tempo e um homem que não era o seu pai.
Continuarei a ser um cidadão atento e
revoltado. Mas que pouco ou nada posso fazer, à
Assistirei sereno e preocupado, até
que os mais necessitados se revoltem em prol de uma vida digna e razoável, que
todos os governos deviam de obrigatoriamente proporcionar.
Enquanto isso não acontece, esventro
os dedos e salpico o corpo de golpes profundos, na busca do eldorado, já bem
longe. Que tanto corrói as saudades.
Como rezo quase todos os dias, mais a
esposa que reza pelos dois, para que não venha a padecer de nenhum mal
incurável. Acabarei a minha vida como começou!
Sem dor nem sofrimento!
Abri os olhos para o mundo no mês de
Maria.
Fechando-os pela última vez quando
Deus o quiser.
Para os abrir no Céu como me
prometeram e olhar para a terra, tentando descobrir o lugar quando chegar a
minha vez. Onde vou novamente ganhar uma nova vida.
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