Era um garoto, quando se deu o 25 Abril e eu na minha inocência, pouco entendia do que se estava a passar. Sentia só, que as pessoas principalmente os homens andavam excitados, não paravam, deambulavam por todo o lado, juntando-se em grupos, sempre a manifestar-se ruidosamente e alegremente. Mais tarde vim a perceber que toda essa alegria era inteiramente justificada, pondo fim a longos anos de repressão da liberdade.
Mas na altura que se deu o 25 Abril, estava no largo brincando com os restantes colegas de botas reforçadas e de calças remendadas. E um ruído de alegria entrou no meu pequenino cérebro que ainda hoje lá se encontra armazenado e pela altura da comemoração da Revolução revejo como se fosse hoje, as vizinhas virem para a rua a gritar, que estavam os canhões a entrar por Lisboa a dentro, para matar os fascistas!
O 25 de Abril dos nossos dias passados 35 anos envia-nos um dramático aviso!
Um aviso de reflexão sem rodeios, sem medos!
A cada ano que passa, perdemos um quinhão de liberdade. Porque nos deixamos iludir pelo papão da ganância e corremos em busca do tudo querer e no final tudo perdemos. Diluindo assim a partilha de abrir a Sociedade às oportunidades que deviam ser abertas a todos, para que todos usufruíssem das mesmas ferramentas para abrirem o futuro. E assim homens e mulheres construíam o seu futuro, com a capacidade que desenvolveram ao longo da sua aprendizagem.
A cada ano que passa fechamos os olhos às conquistas de Abril. Na maioria dos casos por míseros bónus, que nos alegram no momento levando-nos à felicidade prematura, mas são a arma venenosa com que entregamos a nossa honestidade aos chacais esfomeados prontos a devorar a nossa integridade.
A cada ano que passa somos vigiados ininterruptamente. Calcam-nos os calcanhares dia após dia, mês após mês. E nós, envolvidos num invisível colete-de-forças deixamo-nos cabisbaixos levar para longe do nosso ser e passamos a viver meios nómadas dentro do nosso próprio espaço, tutelados pelo sistema que ingenuamente deixamos paulatinamente absorver-nos.
A cada ano que passa deixamos de cantar Abril, de festejar Abril, de amar Abril! Porque fomos influenciados por meia dúzia de seguranças de elite com divisas de catedráticos que através da doutrina trazida dos colégios invisíveis para o comum dos mortais, nos lavaram o cérebro e purificaram-no de ideologias próprias, com promessas ilusórias que nos afundaram num beco sem saída.
Por tudo isto comemorar Abril será uma afronta, a todos aqueles que deram tudo para que Abril de 1974, fosse um acontecimento que justificasse os horrores do isolamento, os horrores da perseguição e os horrores de verem morrer pais, mães, filhos.
Eu não vou comemorar Abril! Vou reflectir profundamente e humildemente pedir perdão devido á vergonha de também contribuir, mesmo, que por mais pequeno gesto que fosse, de entregar um legado deixado pelos heróis de uma revolução de mão beijada aos devassos que a coberto da noite e disfarçados de bons samaritanos durante o dia. Nos sugaram com promessas falaciosas e nunca consumadas.
Os heróis de Abril não querem comemorações!
Não querem cravos na lapela por um dia!
Querem Abril todos os dias!!!!
Abril na sua essência! Com Democracia, com Liberdade com Respeito e fundamentalmente com humildade! Porque Abril de 1974. Nasceu de homens e mulheres humildes e íntegros.
O 25 de Abril de 1974 desabrochou a Esperança. O 25 de Abril de 2009, ainda vai a tempo de iluminar a confiança. É só nós pretendermos!
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