domingo, 26 de abril de 2009

Tambem Fui Militar Mas não Herói (2)


O meu período Militar, coincidiu com a altura de os portugueses irem para o estrangeiro em manobras integrados na força da NATO.
Itália foi o destino. Partimos num comboio só para militares com oito carruagens. Seis cheias de soldados. Cada compartimento continha quatro beliches, onde as ultimas carruagens iam apinhadas de material militar.
Atravessámos Espanha, entrámos pela França dentro e terminamos no norte de Itália. Foram dois dias e meio sempre a andar, só com ligeiras paragens.
Durante vinte e quatro dias permanecemos em Itália e juntamente com italianos e ingleses, participamos nos exercícios militares chamados ORION/87.
Foram vinte e quatro dias de convivência com soldados italianos (na foto um tenente italiano), na maioria do tempo que estive em Itália e os exercícios eram executados em conjunto. Ainda hoje falo um pouco italiano, do pouco que aprendi, enquanto permaneci junto deles.
Todos os dias subíamos para os camiões militares e depois de sairmos da estrada municipal, entravamos pela floresta dentro, por uma estrada não muito larga mas em muito bom estado e durante seis quilómetros, onde só víamos arvoredo cerrado tanto de um lado como de outro e sempre descendo, acabávamos por parar numa área enorme, onde o terreno era em grande parte coberto de pequenos godos (viemos a saber que no Inverno este local fica completamente alagado mais parecendo um enorme lago). Onde realizávamos os exercícios militares com fogo real, e em conjunto partilhávamos as armas dos italianos e eles as nossas. Tudo era executado por nós, como se estivéssemos na nossa base, em Portugal.
À hora do almoço, comíamos uma refeição ligeira à base de conservas e pão e a meio da tarde regressávamos pelo mesmo caminho e chegados ao quartel, depois de um banho e um bom jantar às dezanove horas. Eu e os meus três amigos corríamos para a cidade de Spilimbergo (a dez minutos) e aí junto com umas amigas italianas, divertíamo-nos até à uma hora da manha, hora obrigatória de entrada no quartel.
No último dia de permanência, convidamos as altas patentes militares estacionadas no perímetro que envolvia o ORION/87, em maior numero os italianos. E, juntamente com o nosso embaixador em Itália, demos um beberete no quartel que nos puseram à disposição e por entre queijadinhas, rissóis, camarão, rojões, moelinhas, chouriço, alheiras etc. Acompanhado pelo vinho verde branco e whisky, deu-se largas à alegria e boa disposição. Mas o caldo verde o nosso famoso caldo verde com a couve muitíssimo fininha e a famosa rodela de chouriço, foi muitíssimo apreciado e a maioria dos presentes quiseram voltar a saborear, encantados com o paladar do nosso caldo.
Tudo isto foi observado e partilhado por mim, dado eu ser um dos que servia os presentes. Com a bandeja na mão esquerda, percorria toda aquela gente, não deixando ninguém sem pegar, numa entrada numa mão e na outra um bom copo de vinho, ou de whisky, conforme o desejo de cada um.
E dezasseis meses depois vi-me fora do exército. Com a certeza do dever cumprido e a convicção de uma experiência enriquecedora.

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