quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Tempo dos Empregos Para Todos


A situação é infelizmente grave!
O emprego é uma miragem para quem o perdeu!
É como procurar uma agulha num palheiro para quem o procura!
Correndo os jornais, batendo à porta das empresas, ou enviando currículos sem fim para empresas do norte a sul, esperando impacientemente que uma delas, ao menos umazinha. Que se lembre do currículo desse alguém que o enviou e lhe dê a noticia, apareça cá que temos algo para si!
É consolidar o emprego que possuímos!
Mantendo-o com todo o nosso empenho, para que esta fase passe e novos ventos, tragam a retoma da economia mundial e a esperança de uma vida melhor para milhões e milhões.
Ao escrever esta simples introdução, estou a recordar quando se iniciou a minha primeira aventura no mundo do trabalho.
Era ainda um miúdo, vinha do mundo da escola, dos livros debaixo do braço, do convívio com miúdos da minha idade, onde só pensava no futebol e nas garotas.
E de um momento para o outro vi-me num enorme salão sem fim à vista. Dividido em quatro secções cheias de máquinas, de grande comprimento e de pessoas agarradas a elas (maquinas) como quem agarra um filho, porque era nessas máquinas que estava o sustento desses homens e mulheres para matar a fome às bocas que tinham em casa e na maioria dos casos eram bocas e mais bocas.
Um barulho ensurdecedor, vindo daquelas enormes máquinas que me deixavam um zumbido irritante nos ouvidos que me acompanhavam para todo o lado.
E gente que nunca tinha visto, nem imaginava que existiam. O meu mundo até aí era completamente oposto e sinceramente não imaginava que existisse este mundo que eram, os trabalhadores dezenas e dezenas deles, com roupas pobres e salpicados de restos de matéria-prima.
A maioria deles, moravam em freguesias que viviam da agricultura, o que originava, apresentarem-se ao trabalho com um aspecto muito pobre e sem o mínimo de brio e muitos cheiravam mal devido a falta de higiene. Criaram-me uma impressão bastante deprimente.
Mas eu não queria me tornar assim. Longe disso!
A adaptação foi terrível! Chorei pelos cantos, nos primeiros dias.
Queria voltar atrás! Queria dizer ao meu pai que me tirasse dali, que me levasse de volta para a minha escola, para junto dos meus amigos e amigas.
Queria sair dali e prometer-lhe que iria ser o melhor estudante da turma e tornar-me doutor! Prometia-lhe tudo o que ele quisesse, mas que me tirasse dali, por amor de Deus!
Mas já nada havia a fazer, os meus lamentos caíram num poço sem fundo e como tal, não havia volta a dar que os emergisse à superfície.
Como o meu pai também lá trabalhava, era encarregado de uma das secções. A resignação acabou por ter o seu acompanhamento passo a passo, o que ajudou à assimilação da realidade.
E pela manha ainda o dia era escuro (cinco e meia da manha), no Inverno era terrível, lá ia eu para o meu trabalho, fazendo metade do caminho pela linha do comboio fora e o restante pela estrada que me levava ao trabalho.
Fazia-me companhia um colega (vizinho), muito mais velho, que percorria o caminho até à fabrica, completamente calado. Raramente trocávamos uma palavra, fazíamos todo o trajecto sem um murmúrio, ou qualquer gesto.
Acho que ele na maioria das vezes ia a dormir, o calo de percorrer aquele caminho milhares de vezes, já lhe dava a pratica de poder ir a dormitar. Por menos era a sensação que me dava.
Pela duas da tarde terminava o meu trabalho e como o meu percurso demorava perto de meia hora, chegava a casa cansado, almoçava o que a minha mãe me deixava e deitava-me a dormitar, para depois ir treinar, onde esquecia todo o meu dia de trabalho e sonhava com o que não era possível! Nem todos os nossos sonhos são possíveis de realizar, mas sonhar não é pecado, até faz bem ao ego!
Como nesta altura estava completamente envolvido no futebol, ajudava a superar todo o ambiente do trabalho e quando estava a trabalhar, procurava imaginar o futebol e tudo o que o envolvesse.
Via-me a jogar num grande clube, rodeado de gente que me aplaudia que queria um autógrafo meu e claro quando acordava destes meus delírios, enfrentava a realidade. A realidade do trabalho! A realidade de trabalhar no duro, sempre pronto para substituir quem faltasse.
Mas os sonhos não comandam a vida! À que parar e enfrentar o que me rodeia, assumindo, que o meu mundo agora era aquele e portanto à que dar o máximo para conseguir algo dentro desta empresa.
Comecei cedo a trabalhar e cedo amadureci para o mundo. Dum mundo em constante mudança e eu tinha que me preparar para agarrar essa mudança e com dinheiro, passei a ter uma vida deveras agradável.
Tinha dinheiro não para muitas loucuras, mas para me proporcionar momentos agradáveis. Podia jantar fora, assistir a um espectáculo, ir à discoteca todas os sábados, etc. …. E mais que tudo, era independente! Não tinha que dar satisfações a quem quer que seja.
Como era uma pessoa com bom carácter e sem problemas de qualquer tipo, a vida corria sem sobressaltos tanto para mim, como para os que me rodeavam.
Tinha um bom emprego e com um bom cargo. Enfim tudo corria bem!
Eram os dezoito anos da pujança, da convicção que o mundo é meu e como tal à que gozar os prazeres da vida.
Dezoito anos, maioridade conquistada, a independência assimilada! Tudo corria bem o mundo era tão magnifico!
A Sociedade entrava na melhor fase da minha vivência!
Portugal começou a fazer parte da Comunidade Económica Europeia e como tal era um entrar diário de incentivos aos milhões que enchiam os bolsos dos novos-ricos que na maioria dos casos os esvaziavam num antro de perdição em lugar de os investir nos alicerces das suas empresas.
Deu no que todos já imaginamos e hoje é um fechar de portas porque os frágeis alicerces ruíram como castelos de areia.

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