sexta-feira, 5 de março de 2010

Era Um Garoto


Hoje fala-se muito de injustiças. Mas elas sempre surgiram ao longo do tempo que passa, dando-lhe o veredicto quase sempre condenando o injustiçado.
As pessoas adoram culpar o inocente só porque estava no local errado á hora errada. E fazem dele o bode expiatório para servir de exemplo e mostrar que os princípios que regem as instituições, são para serem levados á risca sob pena de trair o lema da Associação onde estão inseridos. Esquecendo-se que estão a tapar o sol com a peneira já que resguardam o verdadeiro prevaricador e malham no pobre coitado que se limitou a seguir o mandante da infâmia.
Foi num dia cheio de sol, que saudade do sol, já que a chuva molengona aborrece tudo e todos. Que pairou a injustíssima servida a frio, num corpo de garoto que levou com as favas e premiou quem prevaricou com o brinde. Deixando ferida aberta, tamanha a injustíssima sentenciada por homens de pouca fé, quando o seu lema era ensinar os caminhos da verdade.
Eram cartas de jogar, para preencher os tempos livres e fortalecer o espírito de grupo.
Mas eram cartas de visões impróprias para garotos com imagens a raiar o escândalo, já que os corpos das mulheres estampadas no dorso das cartas eram explícitos de sensualidade.
Fomos apanhados pelos chefes e logo se instalou o medo pelas consequências.
Toca a descobrir o responsável por fazer chegar as cartas a tão respeitosa Associação que se valia pelos princípios de respeito e o castigo para tal afronta foi exemplar.
O dono das cartas filho de um respeitável comerciante, por isso tinha acesso a tal entretimento que enchia a mente de vontade em ganhar e o corpo de comichões desconhecidas. Foi ilibado já que era indecoroso desrespeitar o bom nome e pôr o descendente em maus lençóis.
Então era necessário castigar alguém para que o exemplo fosse o fim de futuras diabruras em miúdos a despontar para as travessuras.
E num abrir e fechar de olhos escolhem-me!
Porquê eu? Repetia vezes sem conta!
Porque estava a jogar e segundo os restantes três, fui o que instigou à jogatana!
Castigo exemplar: obrigatório durante um mês apresentar-me na Sede para pagar a cota semanal durante um mês (o tempo de castigo) e logo que isso fosse feito abandonar a Sede, porque não podia frequentar esse espaço durante a duração do calvário.
Um mês de calvário! O medo instalado para que os meus pais não soubessem. E pior, a revolta que trespassava o meu corpo por saber que fui a vítima de três colegas para juntamente com os chefes, safarem a pele.
Durante um mês deambulava pelos lugares em redor da Sede, para que o tempo de duas horas passasse e eu chegasse a casa como se viesse de mais uma actividade escutista.
Sentia-me um cãozito abandonado com o rabo entre as pernas, envergonhado e revoltado.
Acabou o mês e acabou o escutismo!
Enchi os pulmões de ar e desisti daquela cambada de seres inúteis batendo com a porta para nunca mais voltar.
Enfrentei os meus pais e fiz valer a minha decisão de uma injustiça atroz.
Cresci com esta experiência e a partir dali ninguém mais me utilizou como bode expiatório para salvar as costas a quem quer que seja.
Era um garoto e ainda bem! Porque foi o impulso para crescer e compreender o mundo que me rodeava.

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