sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Fogo do Jardim


Seguimos na direcção dos nossos sentidos, guiados pelos nossos desejos.
Ancoramos num arvoredo não muito denso, o jardim onde viemos a descobrir o fogo ainda escondido, pronto a soltar-se a qualquer momento. Que deixava vislumbrar os comboios eléctricos que transportavam as crianças na direcção do sonho de cada uma.
Trocávamos desejos e beijos, resguardados pelo guarda-chuva andante. Largo, autentico aconchego, para nos abrigar de olhares indiscretos.
Tu sempre preocupada com os salpicos da chuva que os plásticos de resguardo não conseguiam segurar e então, para não enfraquecer ainda mais o que de frágil possuis, escondias o que de tão belo deve ser o ícone da imagem.
Os foguetes eram o fogo das cruzes, mas fomos nós que fizemos a festa.
As canas caíram imaginárias nas margens do jardim, mas fomos nós que as lançamos.
 Primeiro uma a uma, aquecendo a alegria de cada um.
 Depois, ó depois: eram seguidas, frenéticas. Deixando-nos ofegantes do brilho das cores cintilantes, que eram libertadas, a cada toque pelas nossas mãos, autênticos foguetes lançados, muito perto de nós, que cada vez mais, rebentava num estrondo apoteótico.
O fogo durou largos minutos, abençoado tempo, que deu tempo, para nos encontrarmos com a ansiedade tão desejada.
As cores multiplicavam-se, pelos lançamentos seguidos. O céu abriu-se num clarão que apagou a noite e lhe deu um colorido diurno.
Precisávamos de espaço para estender o nosso frenesim e resguardamo-nos ainda mais, prontos a libertar os nossos desejos já tão maduros, mas ainda órfãos de paternos murmúrios.
 
Regressamos, mas a vontade era lá permanecer, porque o povo já se aglomerava, na maioria jovens, sedentos de agradar e ser admirados numa noite que se prolongou até creio eu, ao raiar do dia.


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