terça-feira, 15 de maio de 2012

Os Escolhidos


-Mamã quem são estes homens e não há mulheres aqui no jornal?
Dizia o garoto à mãe logo pela manha, enquanto comia o bolo, metade caía no jornal.
-São os jogadores de futebol que vão jogar por Portugal, lá para fora. Nem sei onde e nem me interessa, pouco ligo a isto da bola filho.
-Come mas é o bolo, para ires para o coléginho.
-Mas mamã, tantos homens que vão jogar.
-Sei lá filho! Vá lá, já terminás-te o bolo, o puto já comia o resto que tinha caído no jornal.
-Tenho sede quero água!
Menina traga um copinho d´água, para o menino de faz favor?
E lá foram mãe e filho, a caminho do coleginho, sem antes eu ouvir: - Mamã dás-me uma bola de futebol?
-Dou-te mas é um chapo rapaz, senão te despachas!
Peguei no jornal e lá estava, bem visível e logo nas primeiras páginas, os escolhidos de Paulo Bento.
Os do costume, jogadores habituais da era Paulo Bento.
 E as surpresas, que tanto, frenesim tentaram criar, mas de surpresas nada tem, são nomes que todos nós já vaticinávamos.
O Jornal de Noticias chamou às primeiras páginas, os escolhidos.
Por aqui se vê, que o futebol, alimenta cada vez mais a fome de quem já pouco tem!
Se o jornal colocasse como legenda, para além do nome, o salario mensal que cada um aufere. Seria tema durante o dia, da disparidade que os jogadores ganham com o que todos nós ganhamos (alguns já nem ganham).
Crise para uns, alegria salarial para outros.
Nem de propósito este destaque que o jornal dá aos escolhidos.
No de amanhã, devia de vir também nas primeiras páginas, o descalabro dos clubes, nos salários em atraso, aos jogadores que não fazem parte do lote destes vinte e três!
São dois, três, quatro meses sem receberem!
Como vive aquela gente. Como pagam as suas contas e todos jogavam ao fim de semana.
Como se pode alimentar o ego de ter uma equipa nos escalões principais e não pagar: um, dois, três, quatro meses.
A sociedade em que vivemos está deste modo.
Uns trabalham e não recebem.
 Outros tentam arranjar trabalho para receberem.
 Outros ainda perderam o trabalho e deixaram de receber.
Eis o bolo que vai fermentando, a cada dia que passa, numa cozedura em banho-maria, que quando se retirar do forno, nem para os pássaros servirá de consolo.

  




Sem comentários: