-Mamã quem
são estes homens e não há mulheres aqui no jornal?
Dizia o
garoto à mãe logo pela manha, enquanto comia o bolo, metade caía no jornal.
-São os
jogadores de futebol que vão jogar por Portugal, lá para fora. Nem sei onde e
nem me interessa, pouco ligo a isto da bola filho.
-Come
mas é o bolo, para ires para o coléginho.
-Mas mamã,
tantos homens que vão jogar.
-Sei
lá filho! Vá lá, já terminás-te o bolo, o puto já comia o resto que tinha caído
no jornal.
-Tenho
sede quero água!
Menina
traga um copinho d´água, para o menino de faz favor?
E lá
foram mãe e filho, a caminho do coleginho, sem antes eu ouvir: - Mamã dás-me
uma bola de futebol?
-Dou-te
mas é um chapo rapaz, senão te despachas!
Peguei
no jornal e lá estava, bem visível e logo nas primeiras páginas, os escolhidos
de Paulo Bento.
Os do costume,
jogadores habituais da era Paulo Bento.
E as surpresas, que tanto, frenesim tentaram
criar, mas de surpresas nada tem, são nomes que todos nós já vaticinávamos.
O
Jornal de Noticias chamou às primeiras páginas, os escolhidos.
Por
aqui se vê, que o futebol, alimenta cada vez mais a fome de quem já pouco tem!
Se o
jornal colocasse como legenda, para além do nome, o salario mensal que cada um
aufere. Seria tema durante o dia, da disparidade que os jogadores ganham com o
que todos nós ganhamos (alguns já nem ganham).
Crise para
uns, alegria salarial para outros.
Nem de
propósito este destaque que o jornal dá aos escolhidos.
No de
amanhã, devia de vir também nas primeiras páginas, o descalabro dos clubes, nos
salários em atraso, aos jogadores que não fazem parte do lote destes vinte e três!
São dois,
três, quatro meses sem receberem!
Como
vive aquela gente. Como pagam as suas contas e todos jogavam ao fim de semana.
Como
se pode alimentar o ego de ter uma equipa nos escalões principais e não pagar:
um, dois, três, quatro meses.
A
sociedade em que vivemos está deste modo.
Uns
trabalham e não recebem.
Outros tentam arranjar trabalho para
receberem.
Outros ainda perderam o trabalho e deixaram de
receber.
Eis o
bolo que vai fermentando, a cada dia que passa, numa cozedura em banho-maria,
que quando se retirar do forno, nem para os pássaros servirá de consolo.
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