A chuva persiste e dá um tom de tristeza a
este domingo que acorda embrenhado numa humidade gritante.
Depois de um final de tarde, entrando pela
noite dentro, a viajar quinhentos quilómetros com a Áustria e a Suíça, a roçar
os calcanhares à Alemanha. Senti que todos se preparam para a chegada da neve, não
tarda nada.
Basta que o tempo arrefeça abruptamente (o
que é normal) e tudo se transformará num branco sem fim, que se elevará pelas
montanhas distantes e tocará o céu, para lhe oferecer a pureza da natureza.
Nem quero pensar nisso.
Neve!
É belíssima para admirar. Estilhaçar ao andar.
Apanhar para lhe dar forma.
Mas para trabalhar. Deus me livre!
Enregela os ossos, oprimidos com tanto frio. Faz
imensas dores nos dedos que para os voltar a aquecer, derramo lágrimas
dolorosas, sacudindo as mãos como se me queimassem intensamente.
Sejam as botas que forem. Os pés pesam como chumbo
e movê-los é um martírio sem fim.
Neve espera a chegada do Natal!
Assim
ofereces a alegria de colorir a quadra e admiro-te no quentinho do carinho e na
alegria da chegada.
A vidraça
mostra-me a floresta envolta numa neblina que não se solta.
Nem as aves se mostram.
Nem os animais se voltam.
A chuva ri-se para mim, mostrando que vai
ficar todo o dia e não adianta fazer planos para lhe dar a volta.
Mas eu no quentinho deste bunker lotado. Estendo-me
ao comprido e de espírito livre, revejo a satisfação de estar bem.
A certeza das saudades estarem bem perto de
serem desanuviadas.
E estou com um sorriso feliz, porque o
momento assim o permite.
O domingo ainda tem poucas horas de
reivindicar a sua aurora. Por isso vou embalar-me no que resta dele e procurar
encontrar a beleza de quem está sempre comigo e de quem tão longe, se encontra
bem perto.
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