“Temos que agarrar o futuro com as duas mãos”
Diz o coto!
Com as duas?
Se milhares e milhares de portugueses, estão
de mãos atadas sem futuro para agarrar.
Temos mãos!
Mas
não temos emprego para fazer delas o sustento da família. Iremos roer as unhas
até ao sabugo, na procura constante de um local para picar o cartão, num país
de faz de conta.
Temos mãos!
Para ensinar e acarinhar.
Mas retiram-lhe os alunos e fecham-lhe a
escola.
Longos
anos a segunda casa. Milhares de horas a ensinar e educar. Os pequenos petizes,
que deram homens a valer.
Temos mãos!
E que
talento para aliviar qualquer dor. Mas coitados dos pacientes, sem mãos para
fazer parar o desaparecimento com o tempo, do Serviço Nacional de Saúde. Para o
oferecer de mão beijada aos privados do costume.
Temos mãos!
Para fazer de Portugal um postal ilustrado.
Com artistas
que lhe fecham os teatros. Deixando-os a ensaiar para o ar e de mãos a abanar.
Com pintores que lhes sugam metade do preço
dos quadros. Deixando-os a cobrirem-se de verdete nos cantos dos estúdios pintados
a negro, já que apoios para exposições nem vê-los. E galerias fechadas, sem
apelo nem agrado.
Temos mãos!
Para
reivindicar de punho cerrado e ameaçar. Mas não passamos disso e nem chegamos a
experimentar, até onde vai, a força das nossas mãos.
Temos mãos!
Para apontar de dedo em riste os sanguessugas
da nossa praça. Que nos chupam o sangue
que nos dá vida.
E somo tantos com tantas mãos. E porquê, não chegam,
para ao menos acariciar o pescoço desses betinhos de colarinho branco.
Temos mãos!
E ainda bem que as temos.
Poderemos agarrar apesar de tudo, a esperança
em acreditar nos novos tempos.
Sejam a curto prazo. Sejam no auge de definir
o futuro dos nossos netos.
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