quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Temos mãos




“Temos que agarrar o futuro com as duas mãos” Diz o coto!

Com as duas?
Se milhares e milhares de portugueses, estão de mãos atadas sem futuro para agarrar.
Temos mãos!
 Mas não temos emprego para fazer delas o sustento da família. Iremos roer as unhas até ao sabugo, na procura constante de um local para picar o cartão, num país de faz de conta.
Temos mãos!
Para ensinar e acarinhar.
Mas retiram-lhe os alunos e fecham-lhe a escola.
 Longos anos a segunda casa. Milhares de horas a ensinar e educar. Os pequenos petizes, que deram homens a valer.
Temos mãos!
 E que talento para aliviar qualquer dor. Mas coitados dos pacientes, sem mãos para fazer parar o desaparecimento com o tempo, do Serviço Nacional de Saúde. Para o oferecer de mão beijada aos privados do costume.
Temos mãos!
Para fazer de Portugal um postal ilustrado.
 Com artistas que lhe fecham os teatros. Deixando-os a ensaiar para o ar e de mãos a abanar.
Com pintores que lhes sugam metade do preço dos quadros. Deixando-os a cobrirem-se de verdete nos cantos dos estúdios pintados a negro, já que apoios para exposições nem vê-los. E galerias fechadas, sem apelo nem agrado.
Temos mãos!
 Para reivindicar de punho cerrado e ameaçar. Mas não passamos disso e nem chegamos a experimentar, até onde vai, a força das nossas mãos.
Temos mãos!
Para apontar de dedo em riste os sanguessugas da nossa praça. Que nos  chupam o sangue que nos dá vida.
E somo tantos com tantas mãos. E porquê, não chegam, para ao menos acariciar o pescoço desses betinhos de colarinho branco.
Temos mãos!
E ainda bem que as temos.
Poderemos agarrar apesar de tudo, a esperança em acreditar nos novos tempos.
Sejam a curto prazo. Sejam no auge de definir o futuro dos nossos netos.

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