sábado, 11 de abril de 2009

A Sexta-Feira Santa de uma Semana Longa




Acordei ao som dos sinos da igreja da paróquia anunciando a comemoração da morte de Cristo.
Nesta quadra pascal, fico um pouco sensível, talvez devido à minha educação cristã e ao envolvimento que a minha infância sofreu virado para a igreja. Nomeadamente na catequese e depois no Escutismo.
Comecei a semana refugiado em mim, apesar de estar envolvido com a família!
Percorreu-me a necessidade de me isolar um pouco e estar comigo mesmo. Ou seja estar com os meus pensamentos e refugiar-me no interior do meu ser.
Iniciou-se logo no Domingo. A tarde passeia sozinho, virado para tarefas de bricolage, refugiado no complexo de garagens que suporta o prédio, onde a minha fecha todo o correr de dezasseis garagens formando duas filas de oito com o espaço para os automóveis entrarem e saírem. E aí recolhido no meio de utensílios já fora de uso e recordações materiais dos miúdos ainda bebés, recordei momentos marcantes de uma vida feliz, que me libertaram uma nostalgia contagiante levando-me um pouco à emoção de reviver imagens tão vincadas na memória de um tempo virado exclusivamente para os filhos.
Foram horas de descompressão e saudade. Com a certeza de uma garagem arrumada, onde cada coisa ficou no seu lugar e no final sentia-me mais leve e subi ao encontro da família entretida nos seus afazeres, deixando-me entregue à minha disposição e refúgio.
Entrou a semana e a rotina manteve o seu cariz usual, alternando com ligeiras oscilações positivas dos filhos, já que estavam de férias e havia muito para contar conforme os episódios mais ou menos caricatos lhes surgiam e num ápice começavam um rol de conversas que enchiam o almoço, ou o jantar de momentos divertidos e felizes.
O trabalho decorreu dentro da normalidade do costume, com troca de amêndoas entre os colegas e pão-de-ló na quinta-feira, como saudar a chegada da Páscoa e as portas abertas para um fim-de-semana prolongado.
E a sexta-feira chegou e acordei ao som dos sinos. De manha dei uma fugida ao emprego, havia assuntos importantes a resolver e duas horas depois levava o mais velho para um fim-de-semana, na companhia dos primos para gozarem um pouco das novidades de cada. Voltando a casa de encontro ao restante agregado que sem mim nada faz, o pai é pau para toda a obra.
A tarde passei-a, a preparar o meu arsenal de garrafas para engarrafar o vinho espectacular do Alentejo. Que todos os anos (já lá vão oito), por esta altura torna-se um ritual. E foi uma alegria para o mais novo, que de mangas arregaçadas colocava as garrafas lavadas no escorredor e excitado, já que não parava de falar, (queria saber tudo e queria respostas para todas as duvidas), colocava-as delicadamente dentro das caixas, onde eram guardadas, para serem enchidas com a pinga que me regala. Que delicia a quem ofereço meia dúzia de garrafas, a quem convido para jantar, a quem já o conhece e aparece para um copo.
No inicio da noite depois de uma costelinha assada feita por mim e dois, ou foram três! Não interessa, copos do vinho já referido. Fui assistir a um espectáculo de uma banda integrado nos ciclos de som e observação cá da terra e pude deliciar-me com uma banda revestida de trompetes, violinos e teclados vintage. Onde me transportaram para cenários singulares e confesso que me diverti e até dei uns berros de empatia para contagiar o grupo, mas mais a assistência que me rodeava. Onde a mulher não parava de me chamar maluco e beliscando-me o braço tenazmente para eu me portar bem.
Foi excelente para afugentar todo o stress, que se acumula ao longo da semana, deixando um sentimento de leveza e boa disposição.
Terminei a sexta-feira santa que já leva dois mil anos (ou quase), assistindo à paixão, que a RTP passava sobre a ultima semana da vida de Cristo, com a excelente qualidade da BBC.
Adoro este tipo de séries, deixam-me mole e amoroso. E já altas horas da noite, recolhi ao quarto para o merecido sono, sem antes recolher e ser recolhido pelos braços e pelo corpo da minha jovem que me elevou para outro tipo de paixão que não a de Cristo.
Ressuscitando pela manha envolto no perfume de uma chama ardente, que me despertou para um inicio de sábado feliz e satisfeito comigo mesmo.
Com tudo o que me rodeia. E com a certeza de que a família está unida no seio da alegria, felicidade e saúde.

1 comentário:

OnlyMe disse...

É muito bom podermos estar, por vezes, acompanhados apenas de nós próprios. Eu, pelo menos, adoro-me!! hehe

Desejo-te um óptimo domingo de Páscoa e cuidado com as iguarias da época. Não abuses, olha a dieta! lol

Jinhos :)