quinta-feira, 7 de maio de 2009
Adormeci a Pensar nos Meus Colegas de Infância.
Aqueles que me acompanharam ao longo de uns anos e que deixaram a sua marca. Para eu me recordar deles, quando uma fumaça de nostalgia percorre o meu pensamento.
E como eu era um garoto e logo um jovem que não parava quieto. Precisava de uma ocupação, para sossegar toda a energia que se acumulava neste corpo magrito, mas duro como uma rocha.
Não apreciava grandes aglomerações de jovens. Optava por três ou quatro, fossem eles de uma colectividade, onde o Desporto marcava primazia e o Escutismo uma obrigação tolerada, com o seu quê de aventura. Ou a Escola, onde todos juntos percorríamos os vários anos e cada rosto já era tão conhecido que a largos metros de distância descobria quem lá vinha.
Não esquecendo os amigos da rua, onde casa a casa morava um ou dois traquinas que me encaminhavam para as diabruras próprias de uma idade tão pura, tão genuína, tão feliz. E que irão marcar a saudade até que, o pó me transforme em alimento para quem habite abaixo dos sete palmos de terra.
Os olhos já se fechavam numa noite quente, quente para a época e já com um bem cerrado, ainda fui a tempo da recordação dos colegas do futebol e dos colegas dos primeiros namoricos bem perto de casa. Para não deixar as miúdas fora do alcance dos olhos astutos dos pais que para a época sentiam que quatro-olhos eram a arma da vigilância do tesouro das filhas.
Despertei com um sobressalto!
Continuei a lembrar os colegas de varias fases de uma infância ainda a roçar a infantilidade, com resquícios de recordações da véspera. Mas as imagens saltavam abruptamente para os colegas já desaparecidos, que embora eu tente esquecer para não ferir as passagens alegres que juntos passávamos. Neste momento assaltaram o meu pensamento.
Tentei cobrir o rosto. Tentei afundar-me na cama para me resguardar de tais horríveis pensamentos, mas eles transportaram-me para a superfície da cama e obrigaram-me a olhar para o tecto e recordar a tragédia de um vizinho.
Rapaz com a vida pela frente como eu! Frequentava o sexto ano como eu. Mas com a diferença de viver com um pai severo e ditador, nada comparável ao meu, indolente e dócil.
Rapazote esperto e maluco pelo futebol. Mas num dia de muito calor a tentação de beber uma cervejita foi mais forte que o medo de o pai poder saber e toca a mamar uma, que lhe refrescou o corpo e mais tarde lhe destroçou a vida.
Até aqui tudo bem! Quando se sentia livre do pai e só acontecia no período escolar, ele dava largas à liberdade que esses momentos lhe proporcionavam e acredito que se sentia como um pássaro fora da gaiola e por umas horas era o soltar das amarras do progenitor.
A cervejita pousou naquele corpo puro. Sem tempo para se desgastar!
E o corpo entrou água dentro, no rio que nos amparava do calor e das valentias de cada um de nós.
A dado momento o meu vizinho deixa de ser visto!
Num esforço sob humano, imagino eu, por dados momentos, ainda alguns o distinguem a quatro ou cinco metros. Com dois braços no ar a pedir a ajuda que ninguém lhe podia dar. E por fim o desaparecimento total.
O vazio estampado em todos nós que ainda quentes de uma emoção épica, apodera-se das nossas mentes ainda jovens para perceber tamanha desgraça. E juntamo-nos no largo onde tantas vezes brincamos juntos, para quem assistiu, contar aos que por uma ou outra razão, ficaram livres de presenciar espectáculo tão macabro.
Levou três dias a aparecer o corpo e três dias o pai não abandonou o rio.
Como felizmente não assisti ao rio levar o meu vizinho deixando-o preso num açude já bem longe da nossa pequena territa. Vejo-me a espaços como hoje aconteceu, a imaginar o drama como se também lá estivesse. E toda a vez que isso sucede um arrepio intenso percorre o meu corpo e deixa-me com saudades do vizinho, com tanta garra para viver e repentinamente o rio levou-o, devido à marota cervejita que de tão fresca que estava, levou mais tempo a desaparecer da barriguita e parou-lhe o coração, num abrir e fechar de olhos.
O pesadelo continua para os pais, que isolando o filho de todos nos, fizeram com que perdêssemos o seu rasto. Nem os seus restos mortais sei onde repousam. e como se fecharam num mundo aparte, ninguém sabe o que quer que seja do vizinho. Desapareceu naquele fatídico dia. E morreu para todos nós numa evaporação sem deixar o mais ténue indicio.
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