domingo, 17 de maio de 2009

A Desesperada Fuga para a Liberdade

A manha aproximava-se do fim e concentrado na minha actividade, conferindo uns artigos de uma mercadoria para venda umas horas depois, exercendo o meu rigor profissional para que nada falhasse. Quando sou interrompido por duas aves jovens que entram pelo enorme armazém pela porta principal, que mais parece para dois pardais jovens, o continuar das suas ainda observações de um mundo novo depois do abandono do ninho onde permaneceram até que as asas ganhassem a pujança de as enviar para o ar que é o seu espaço natural.
A entrada foi de rompante, como foi o assustador desvio das suas trajectórias, quando se aperceberam da minha presença.
Uma conseguiu virar e seguir o trajecto que a trouxe até ali.
Mas a outra, assustando-se voou para a primeira saída que encontrou.
E essa saída foi a janela lá no cimo do armazém que revestida de uma chapa transparente para enviar a luz solar e dar claridade ao espaço. Foi a fuga, pensava a ave do susto que apanhou quando um humano a surpreendeu na evasão do seu local de trabalho.
Continuei na minha função, mas logo deixei de me concentrar já que o desespero da ave em sistematicamente lançar-se de encontro à chapa branca, tentando a fuga para o céu aberto, era desesperante.
Ela recuava um pouco e com toda a força lançava-se como uma louca tentando o impossível.
E só ouvia o estrondo do seu corpo num som que me estava a descontrolar e como o cimo do armazém era de uns bons dez metros, nada podia fazer do que assistir à pobre ave, vezes sem conta esbarrar contra a chapa, pensando ser uma saída que lhe desse a liberdade daquele local que a estava a levar ao suicídio.
Nisto ouvi um pequeno estrondo!
Era a ave que já sem forças para bater as asas e continuar infinitamente a jogar-se contra aquilo que ela pensava ser a saída. Caiu de encontro ao chão, sem conseguir um último esforço para com as asas amparar a queda.
Ainda assisti ao ultimo esgar da ave tentar quebrar a chapa e fugir dali. Mas era impossível e depois de numa última vez esborrachar o corpo de encontro a luz do dia, mas fechado a sete chaves com a dura chapa transparente. Caiu como uma pedra caindo no chão duro, ficando com a barriga virada para cima e as patinhas encolhidas, inerte.
Corri logo para lá e olhando para a ave que não emitia qualquer movimento, pensei: coitadinha da avezinha, morreu a tentar uma aberta para fugir daquele imenso espaço escuro e sombrio.
Senti-me culpado pela ave ter aquele fim e num gesto de compaixão levei as mãos para a tirar daquele chão frio, mas qual não foi o meu espanto, quando senti que abriu os olhos.
Acomodei-a nas duas mãos tentando confortá-la, mas ela não conseguia fazer qualquer tentativa de tentar fugir. Estava mesmo exausta e talvez muito ferida.
Pousei-a ao sol encostada ao portão enorme por onde entrou.
Não reagiu! Como a pousei, como ficou. Nem um ligeiro gesto esboçou.
Como o sol era já um pouco forte, tive medo de ser prejudicial para o bichito. Que mantinha os olhos bem abertos, mas sem denotar qualquer movimento.
Pensei: coitadinha da avezinha desta não se vai safar e tudo por causa de uma corrida louca junto com o amiguinho, que distraidamente invadiram um espaço.
Onde um, teve a lucidez de descobrir a saída pela entrada que entrou. Mas esta pobre avezinha aqui inerte, esbarrou dezenas de vezes, de encontro á luz como a saída fugindo ao humano que a assustou. Mas só encontrou um muro parecido com a luz que lhe guia pelos ares sem fim.
Por fim, para que a ave tivesse um fim envolto num sossego e paz que todo o animal merece, coloquei-a debaixo do meu carro estacionado ali bem perto para que a sombra do inicio da tarde desse o merecido descanso à ave.
Pousei-a tão ternamente que senti um ligeiro movimento do passarito.
Voltei ao meu trabalho, para o terminar, mas já nada conseguia fazer! Toda a concentração estava virada para o passarito. Tentei mais um pouco e pouco ou nada de positivo conseguia.
Um dez minutos depois, já não aguentava a ansiedade de estar longe da ave e fui ver como estava.
Espanto meu. De ave nem vestígios!
Tanto lutou para dali sair que foi vencida pelo cansaço. E depois de uns bons minutos de descanso, lá bateu as asas e voou para bem longe dali e de certeza para nunca mais pousar bem perto daquele local.
Que para a ave foi um susto de morte. Mas para mim é o meu local de trabalho e com grandes responsabilidades, conseguindo apesar da instabilidade, encontrar o local de saída.
Situação que a ave não conseguia, o que quase a levou a perder a luz da vida.

Sem comentários: