terça-feira, 17 de agosto de 2010

Chove, ou não Chove!



Uma chuvinha vinha mesmo a tempo de refrescar a combustão que a vida carrega.
Saio para a rua e confronto-me com um dia sombrio.
O céu está negro, pairando a ideia que finalmente irá cair uma chuva bendita.
Era o culminar de rezas para que a chuva limpasse a alma das florestas tão massacradas pelo fogo assassino, que ganhou corpo de monstro logo que uns psicopatas pela noite dentro, resguardados pela escuridão da mata lhe deram luz e a satisfação a estes doentes mentais.
Era o merecido descanso por algumas horas aos bombeiros martirizados pelo cansaço intenso na corrida para as florestas, tentando cortar-lhes o avanço ao encontro das habitações dos infelizes que de uma hora para a outra dão de caras com o monstro vermelho que engole as árvores ao mesmo tempo que trepa por elas para alcançar as próximas vítimas que encontram no seu caminho.
Era o lavar do ar carregado de poeiras invisíveis que nos entopem as narinas e nos deixam aflitos para respirar o que nos mantém vivos.
Lavando as estradas poiso de detritos microscópicos que amontoados dão lugar a visíveis lombas de pó já constantemente calcadas pelos rodados andantes que dão lugar a crostas impregnadas.
E regando, sim regando; as culturas dos campos semeados de milho tão secos como as toalhas expostas ao sol nas areias das praias. Descansando os agricultores também eles envolvidos em rezas para que Deus abra de uma vez por todas as nuvens que agora sim, pairam ameaçadoras no céu que dá a sensação de estar logo ali em cima dos terraços dos prédios mais altos.
Entretanto uma parte do céu assume um tom ainda mais negro. Até assusta a imensidão da sua área.
O sol tenta furar as paredes dessas nuvens que ameaçam. Numa de senhor absoluto que veio para aquecer o que visiona bem abaixo, o que tem acontecido nestes já longos dias, numa estufa que milhões de nós não somos capazes de nos desembaraçar.
Olho para o lado sul e enfrento uma espécie de nevoeiro esquisito. Não sabendo se irá dar lugar a presenciar um céu azul como já bem sendo habito. Ou a este cenário turvo que se mantém já a manhã vai alta.
Olho para o lado norte. Este sim carregado, com ganas de ameaçador pronto a descarregar, aquele enorme peito inchado que presumo de chuva que dará para limpar, regar, refrescar qualquer cantinho que está ansioso pelo banhinho.
Mas a chuva não vem e a vida lá corre em pleno Agosto mês de férias e descanso.
De emigrantes que estão por todo lado num corre, corre como moscas que não deixam de aparecer em tudo que cheire a alimento.
Houve-se diálogos em francês num dialecto quase imperceptível, para quem se cruza com aqueles aglomerados de famílias.
Franceses imigrantes já de duas ou três gerações são aos molhos neste país que se enche neste mês de aveques de ombros expostos, chinelos chineses e penteados japoneses.
Bons carros para mostrar boa vida lá fora, quando todos sabemos que não é bem assim.
Passam cá uns dias a matar saudades e a encher as localidades.
Só peço que antes de se irem embora que a chuva também os presenteie e se possível já hoje, embora neste momento me resigne a falso alarme.
Levanto-me, vou à varanda e vejo o mesmo cenário, com que acordei.
Talvez chova….talvez?

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