Adélio
acabava de regressar das férias da Páscoa, tão aguardadas como ansiosas.
Percorrendo dois mil e setecentos quilómetros num dia extenuante, só para
poupar uns cobres e com essa poupança, mais sobejava para as despesas dos três
filhos na escola.
Férias,
essas. Que o levaram a matar saudades da família, pensava ele. Mas chegado a
Portugal com uma mala carregada de emoções numa mão e na outra, pronta para os
abraços do encosto das saudades. Levou um choque violento com a receção
preparada no apartamento, que lhe serviu de abrigo em doze anos tão recentes.
Abalando-o para sempre.
Era a realidade bem perto dos olhos que os
fechava freneticamente, para não a enfrentar e pensar que tudo iria melhorar,
com a saída urgente para um país milhentas léguas distante.
Já no Natal se passou algo semelhante. Num aproximar
de corações que já dava mostras de ser precoce. Mas Adélio acordava sempre, no
dia seguinte, como se nada fosse. Afundando mais uma relação que só ele ainda
acreditava ser possível de ser erguida ao céu de um Deus, que tantas e tantas
vezes o resgatava da constante agonia.
Já não falando! Como é possível Adélio relembrar-se,
quando jurou enterrar o recente passado, mas jura ele a pés juntos, que é pela
última vez.
Meteu-se
ao caminho, num avião com destino para um trabalho sem o mínimo de
conhecimento. Mas ia sem temor nenhum, apesar de quando da casa saiu. Nem um
abraço sentiu, da mulher que entretanto se refugiou numas férias paradisíacas.
E assim aterrou num país desconhecido.
Com homens triturados pelas rugas da
imigração e só levava o consolo de ser acompanhado por dois colegas vizinhos.
Que seguiam cada um, com diferentes objetivos.
Numa reunião preparada longos dias antes pela
matriarca da família. De assuntos tão distantes pensados, que já faziam mossa
naquela cabecinha fértil em minhoquinhas, para regalo das aves caseiras
(comadres beateiras). Esperou o regresso de Adélio, sem o deixar repousar e
separar do corpo, o banco colado às costas do automóvel torturante. Estendeu a
manta pela sala e de agenda na mão, para melhor simbolizar a certeza da razão. Desfilou
o rosário do castigo, para atingir o coração de quem (na visão da senhora da
elevada sabedoria) era o calvário do dia-a-dia…………
Sem comentários:
Enviar um comentário