sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Adélio no inicio da grande Verdade





 Adélio acabava de regressar das férias da Páscoa, tão aguardadas como ansiosas. Percorrendo dois mil e setecentos quilómetros num dia extenuante, só para poupar uns cobres e com essa poupança, mais sobejava para as despesas dos três filhos na escola.
 Férias, essas. Que o levaram a matar saudades da família, pensava ele. Mas chegado a Portugal com uma mala carregada de emoções numa mão e na outra, pronta para os abraços do encosto das saudades. Levou um choque violento com a receção preparada no apartamento, que lhe serviu de abrigo em doze anos tão recentes. Abalando-o para sempre.
Era a realidade bem perto dos olhos que os fechava freneticamente, para não a enfrentar e pensar que tudo iria melhorar, com a saída urgente para um país milhentas léguas distante.
Já no Natal se passou algo semelhante. Num aproximar de corações que já dava mostras de ser precoce. Mas Adélio acordava sempre, no dia seguinte, como se nada fosse. Afundando mais uma relação que só ele ainda acreditava ser possível de ser erguida ao céu de um Deus, que tantas e tantas vezes o resgatava da constante agonia.
Já não falando! Como é possível Adélio relembrar-se, quando jurou enterrar o recente passado, mas jura ele a pés juntos, que é pela última vez.
 Meteu-se ao caminho, num avião com destino para um trabalho sem o mínimo de conhecimento. Mas ia sem temor nenhum, apesar de quando da casa saiu. Nem um abraço sentiu, da mulher que entretanto se refugiou numas férias paradisíacas.
E assim aterrou num país desconhecido.
Com homens triturados pelas rugas da imigração e só levava o consolo de ser acompanhado por dois colegas vizinhos. Que seguiam cada um, com diferentes objetivos.
Numa reunião preparada longos dias antes pela matriarca da família. De assuntos tão distantes pensados, que já faziam mossa naquela cabecinha fértil em minhoquinhas, para regalo das aves caseiras (comadres beateiras). Esperou o regresso de Adélio, sem o deixar repousar e separar do corpo, o banco colado às costas do automóvel torturante. Estendeu a manta pela sala e de agenda na mão, para melhor simbolizar a certeza da razão. Desfilou o rosário do castigo, para atingir o coração de quem (na visão da senhora da elevada sabedoria) era o calvário do dia-a-dia…………

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