A manhã está fresca e triste. Sem motivos
para me incorporar no seu olhar.
Bem tento de gola a cobrir as orelhas, dar
meia dúzia de passos na humidade rasteira, mas andando uns minutos, já os pés
reclamam o regresso ao quentinho. Porque para sofrimento basta a semana, hora a
hora de silencioso queixume.
É o Inverno senhor omnipresente, nesta terra
de língua difícil e a transpirar de gente dos países vizinhos, agarrados á
enxada de variadíssimos tamanhos e de materiais de liga leve, que mesmo assim
não deixam de carregar as mãos e cérebro de calos persistentes.
Como Domingo é sinonimo de descanso e
descompressão habitual. Olho pela janela mesmo em frente aos meus olhos, com
pouco brilho ao habitual. Observo a neve no telhado do barraco em frente, que
dá guarida a feno tão seco, exclusivamente para encher a pança do gado,
oferecendo em troca ao agricultor de cento e cinquenta quilos, com uma patroa
de sessenta. Litros e litros de leite que diariamente secam as tetas das vacas
leiteiras.
Pela frincha da porta deste quarto que me
abafa os “ais” de estalidos sonoros, em joelhos gastos pelo tempo de imensas
luas, sinto o aroma a feijoada transmontana.
Previamente preparada com o recheio adquirido
antecipadamente, já que este Domingo é de festa para os ombros do chefe.
Não tarda e o panelão de feijoada a abarrotar
de carne de porco alemão, chouriça portuguesa, feijão francês e vinho português.
Irá encher a mesa pequena para tantos, mas acolhedora para homens famintos de sabores
da nossa terra e de histórias que fazem parte da vivência cá nestas paragens,
dos mais velhos. Que no decorrer das horas, ficam alegres pelas cervejas
companheiras das amarguras da distância.
Temos tarde de cavaqueira até a noite nos
visitar e reclamar o deitar cedo para iniciar a faina semanal, no local já
conhecido e nas tarefas previamente estipuladas.
É isto o pão meu de cada semana e é fresco
para dar a força de seguir em frente.
E como a vida não é feita de rosas. Nem é
preciso o milagre de as transformar em pão. Porque esse ainda é ganho com o
suor de três camisolas. Já que o frio não deixa libertar o corpo para o bronze
da primavera.
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