domingo, 2 de fevereiro de 2014

O panelão de Feijoada




A manhã está fresca e triste. Sem motivos para me incorporar no seu olhar.
Bem tento de gola a cobrir as orelhas, dar meia dúzia de passos na humidade rasteira, mas andando uns minutos, já os pés reclamam o regresso ao quentinho. Porque para sofrimento basta a semana, hora a hora de silencioso queixume. 
É o Inverno senhor omnipresente, nesta terra de língua difícil e a transpirar de gente dos países vizinhos, agarrados á enxada de variadíssimos tamanhos e de materiais de liga leve, que mesmo assim não deixam de carregar as mãos e cérebro de calos persistentes.
Como Domingo é sinonimo de descanso e descompressão habitual. Olho pela janela mesmo em frente aos meus olhos, com pouco brilho ao habitual. Observo a neve no telhado do barraco em frente, que dá guarida a feno tão seco, exclusivamente para encher a pança do gado, oferecendo em troca ao agricultor de cento e cinquenta quilos, com uma patroa de sessenta. Litros e litros de leite que diariamente secam as tetas das vacas leiteiras.
Pela frincha da porta deste quarto que me abafa os “ais” de estalidos sonoros, em joelhos gastos pelo tempo de imensas luas, sinto o aroma a feijoada transmontana.
Previamente preparada com o recheio adquirido antecipadamente, já que este Domingo é de festa para os ombros do chefe.
Não tarda e o panelão de feijoada a abarrotar de carne de porco alemão, chouriça portuguesa, feijão francês e vinho português. Irá encher a mesa pequena para tantos, mas acolhedora para homens famintos de sabores da nossa terra e de histórias que fazem parte da vivência cá nestas paragens, dos mais velhos. Que no decorrer das horas, ficam alegres pelas cervejas companheiras das amarguras da distância.
Temos tarde de cavaqueira até a noite nos visitar e reclamar o deitar cedo para iniciar a faina semanal, no local já conhecido e nas tarefas previamente estipuladas.
É isto o pão meu de cada semana e é fresco para dar a força de seguir em frente.
E como a vida não é feita de rosas. Nem é preciso o milagre de as transformar em pão. Porque esse ainda é ganho com o suor de três camisolas. Já que o frio não deixa libertar o corpo para o bronze da primavera.

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