quarta-feira, 12 de março de 2014

O Artista da Praça




O tipo esforçava-se para mostrar o seu talento. E a gente juntava-se para apreciar até onde iria a capacidade do jovem artista.
Por entre falhanços compreensíveis, compensou com momentos alegres e de muita perícia.
A dada altura dirigiu-se a mim e como eu de alemão ainda serro os dentes para não dizer baboseiras, valeu-me o meu colega que traduziu-me o que toda a gente já de olhos postos em mim, esperava. Um sorriso que não saia.
E era isso que o saltimbanco de praças dizia. O porquê de eu não me rir.
Não me ria porque estava um pouco triste!
Mas admirava o jovem e toda a sua força em chegar ao público que o aplaudia e sorria, com as acrobacias que ele fazia com os objetos.
 Ora para cima. Ora para os lados. Ora debaixo para cima.
Não faltaram os bonecos desenhados com as mãos, nos balões tipo bengala. Que moldado com as mãos do artista. Surgiam cãezinhos e espadas, para os miúdos que enchiam a praça.
Fui ao bolso basculhar o que restava dos euros. Para ajudar um actor de rua parecido comigo.
Sim! Tinha algo que me era familiar.
Com a idade dele também partilhava a liberdade sem a mudança, hoje tão necessária. Como espinhosa.
Com a idade dele fazia rir quem se aproximava e hoje poucos sentem o meu sorriso.
E quem sorriu foi ele satisfeito, agradecendo o meu gesto.
Voltando a dizer que um artista precisa do sorriso de quem assiste.
Mas eu estava triste, sem vontade de sorrir.
Continuei o meu caminho meditando que, seja em praças ou romarias. O talento não tem tecto.

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