Estou longe e neste momento bem longe, do mar
que me trazia de volta os miminhos de criança. E de adulto, a tranquilidade na
esperança.
Do rio, que me refrescava o corpo ainda a dar
resistência aos ossos. E anos depois, do amor que de lá brotou surgindo das
margens repletas de canaviais.
É isto
que me acorda enquanto percorro as ruas de Kaldenkirchen, sem destino
estabelecido!
O ar frio arrefece-me o rosto, estalando a
minha pele já fragilizada pelas intempéries dos dias longos, abraçados ao meu
obrigado esforço.
Os condutores olham-me num misto de
curiosidade e indiferença.
Estou-me borrifando para eles e para as
máquinas que eles conduzem. E eles estão se marimbando para um homem caminhando
de telemóvel na mão, de certeza esperando que o tempo passe, para mais rápido
chegar o dia que traga algo de alegria, para dar valor a este caminhar de uma
vida, feita tão longe do outro lado da lua.
Estou absorvido na mensagem a enviar para
perto do rio. Que quando levanto os olhos para a frente, tenho um ciclista
quase com a roda dianteira, enfiada por entre as minhas pernas.
Claro que caminhava no passeio, mas do lado
da ciclovia.
E tive que ouvir das boas de um alemão,
irritado por ter sido incomodado por um traste, que nem sabe que por ali é a
pista dos alemães fardados em matar o tempo no seu jogging.
Desculpei-me embaraçado numa mistura de
línguas da rua onde vivo e perante o olhar superior do cafajeste, mandei-o
foder baixinho.
E com o alerta bem presente, deixei a
ciclovia para os amantes das bicicletas que por aqui é o caminhar dos nossos
passeios pedestres. E continuei rua abaixo, até o ar frio me arrefecer os
ossos.
A dez quilómetros está a Holanda! Dez
quilómetros antes, estou eu a cruzar ruas estreitas, com os bares repletos de
pessoas a lanchar rabanetes e salames, misturados com carne picada e cebolada
crua.
Pizzas garantidamente italianas em bares
pintados com as cores, onde vive o papa Francisco.
E os putos alemães, tão traquinas como os
nossos. Lambendo sorvetes mesmo com este frio e correndo porta fora, porta
dentro. Que irrita quem quer manter o sorriso quente.
Eu fico-me por uma Wasserburger, de meio
litro que me custa os olhos da cara. Porque com esse dinheiro, dava para beber
três ou quatro, no quentinho da sala.
Mas tenho que pagar a boa vida alemã!
A sua alegria. Quanto mais bebem, mais
alegres se mostram, acentuando as suas gargalhadas audíveis para lá das
vidraças.
Boa vida, esta do alemão. Povo grandioso no
saber e no oferecer. Trabalho, claro está!
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