segunda-feira, 3 de março de 2014

Os Passeios ao Domingo




Estou longe e neste momento bem longe, do mar que me trazia de volta os miminhos de criança. E de adulto, a tranquilidade na esperança.
Do rio, que me refrescava o corpo ainda a dar resistência aos ossos. E anos depois, do amor que de lá brotou surgindo das margens repletas de canaviais.
 É isto que me acorda enquanto percorro as ruas de Kaldenkirchen, sem destino estabelecido!
O ar frio arrefece-me o rosto, estalando a minha pele já fragilizada pelas intempéries dos dias longos, abraçados ao meu obrigado esforço.
Os condutores olham-me num misto de curiosidade e indiferença.
Estou-me borrifando para eles e para as máquinas que eles conduzem. E eles estão se marimbando para um homem caminhando de telemóvel na mão, de certeza esperando que o tempo passe, para mais rápido chegar o dia que traga algo de alegria, para dar valor a este caminhar de uma vida, feita tão longe do outro lado da lua.
Estou absorvido na mensagem a enviar para perto do rio. Que quando levanto os olhos para a frente, tenho um ciclista quase com a roda dianteira, enfiada por entre as minhas pernas.
Claro que caminhava no passeio, mas do lado da ciclovia.
E tive que ouvir das boas de um alemão, irritado por ter sido incomodado por um traste, que nem sabe que por ali é a pista dos alemães fardados em matar o tempo no seu jogging.
Desculpei-me embaraçado numa mistura de línguas da rua onde vivo e perante o olhar superior do cafajeste, mandei-o foder baixinho.
E com o alerta bem presente, deixei a ciclovia para os amantes das bicicletas que por aqui é o caminhar dos nossos passeios pedestres. E continuei rua abaixo, até o ar frio me arrefecer os ossos.
A dez quilómetros está a Holanda! Dez quilómetros antes, estou eu a cruzar ruas estreitas, com os bares repletos de pessoas a lanchar rabanetes e salames, misturados com carne picada e cebolada crua.
Pizzas garantidamente italianas em bares pintados com as cores, onde vive o papa Francisco.
E os putos alemães, tão traquinas como os nossos. Lambendo sorvetes mesmo com este frio e correndo porta fora, porta dentro. Que irrita quem quer manter o sorriso quente.
Eu fico-me por uma Wasserburger, de meio litro que me custa os olhos da cara. Porque com esse dinheiro, dava para beber três ou quatro, no quentinho da sala.
Mas tenho que pagar a boa vida alemã!
A sua alegria. Quanto mais bebem, mais alegres se mostram, acentuando as suas gargalhadas audíveis para lá das vidraças.
Boa vida, esta do alemão. Povo grandioso no saber e no oferecer. Trabalho, claro está!

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