terça-feira, 13 de abril de 2010

As Urgências deste País


Entrei com fita verde, eram 17 horas de Domingo!
A urgência estava calma, lindo dia para ir á praia e claro, ninguém para ir às urgências. Porque muitas mazelas a água do mar atenua e o iodo alivia a respiração carregada de venenos absorvidos.
O chamamento para a triagem ilude quem pensa o mesmo para o atendimento, mas rapidamente é recolhido às cadeiras de plástico incómodas, tantas são as posições escolhidas vezes sem conta.
Quinze minutos passaram e nada! Leio os cartazes pendurados nas armações das lâmpadas, ajuda a passar o tempo e relembramos tarefas a cumprir diariamente.
O segurança metido na farda com símbolos coloridos, aguenta os mais impacientes e sempre prudente, trava os curiosos de se meter urgência adentro. Pelo meio contem o sorriso com a mão, mas não esconde os olhos húmidos, tudo porque assiste via televisão à sessão da tarde. Uma comédia divertida.
E assim o tempo passa, uma meia hora onde ninguém foi chamado. E somos três ou quatro!
Já decorei as frases dos cartazes pendurados. Para onde me virar levo com um estrategicamente colocado.
Parei em frente ao televisor e de facto a comédia é entusiasmante, rio-me a bom rir e por momentos esqueço onde me encontro.
Ouço finalmente a chamada e logo dois são reencaminhados Consultório 1, medico português. Consultório 2, medico brasileiro.
Esfrego as mãos de contente, serei o próximo e aproveito para limpar o TLM, de mensagens antigas e chamadas já sem história.
Mas é efémero o meu contentamento e mais meia hora de seca é-me imposta.
Tenho fome, tenho dores! Tenho necessidade que o médico, veja o meu derrame já assustador, mas também estou disposto a dar meia volta e vir-me embora.
Assisto na sala de espera a encontro de vizinhos de uma freguesia interior do concelho e na preocupação de saber porque está ali, escuto obrigatoriamente claro, que “o meu Chico está desde manhã em observações duma dor que tem no peito”.
Finalmente ouço o meu nome!
Que alivio! Consultório 2, no fundo de um corredor apinhado de doentes em macas. Um deles devia ser o Chico.
Dois minutos de conversa com um medico, já saturado de atender e prescrever informaticamente o alivio que todos esperam para as suas mazelas. Lá vou para o raio-X, e num vira daqui e não mexa agora. Regresso com as chapas á cadeira do Consultório, numa tentativa vá de tentar esclarecer o médico de como tudo se passou para eu ter um negrão no tornozelo, mas o médico não estava para aí virado. E minutos depois estou a pagar a taxa moderadora e a taxa do raio-X. Saindo para o sol que ainda vai alto rumo à farmácia, mancando pelo meio do parque da cidade encurtando caminho, pagando o alivio num antibiótico milagreiro e um inflamatório com cheiro a rebuçado de menta.
Já não comparecia numa urgência á uns bons anos. Tenho sido forte como um touro, mas nesta ocasião frágil como um bebé. As urgências são um suplício, livrar-me delas será doravante um compromisso.
Deus me ouça e me guie por caminhos sem tropeços.

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