sábado, 17 de abril de 2010

O País dos Afilhados



O grande mal deste país é ter pessoas que falam demais. Que lutam furiosamente para ter o seu espaço. Querem estar onde os outros já assentaram arraiais e nada melhor que serem o foco da atenção, para mostrarem as aptidões que julgam ter nascido com esse dom.
Falam com a certeza de que estão certas no que dizem!
Não pensando que o que hoje é um dado adquirido, amanhã nunca o será. E como só olham para o seu umbigo, numa ambição sem olhar a meios, não interessa descobrir que devem dar a mão à palmatória e assumir as suas certezas, mesmo que para isso renunciem aos seus cargos.
Como o carácter é já uma extinção em quase todos os políticos e não só. Sujeitam-se ao ridículo de cuspir para o ar e caírem-lhe bem no centro das fuças. E como não existe um buraco para se esconder, o tempo tudo esquece e toca a remar em frente.
O mais importante é garantir o sustento pensam eles, numas panelinhas onde a maioria se coze em banho -maria.
E enquanto o banho-maria durar, enchem o tacho para eles e para os seus. Em muitos casos, autênticos haréns, que é urgente preservar e sustentar. Enquanto no que diz respeito ao resto, que venha o próximo e bata a porta.
O importante é comentar e tentar descortinar o presente. Assegurar um lugar permanente (ou quase). Porque o futuro é uma incógnita e quando chegar, umas palmadinhas nas costas, ou uns telefonemas na hora certa. Dão a certeza de continuar a usufruir de privilégios, mesmo sendo garantidos por alguém que se subestimou não há muito tempo atrás.
É por isso que assistimos a comentários dos chamados especialistas que traçam já o destino dos benjamins que se lançam em desafios dantescos, prevendo a sua queda muito antes de conhecerem os resultados finais. E depois são obrigados a engolir sapos vivos bem gordos e viscosos, para não terem que se desfazer do bem bom que já ganhou teias de aranha nos bancos almofadados. Ora no parlamento, que a oferta nem obriga a grande procura é só seleccionar. Ora nos gabinetes estatais, onde a oferta quase se resume a favores dos muitos amigos a abarrotar de afilhados.
E acabamos por ter os melhores crânios deste país a deambular pelo mundo fora, muitos deles, fazendo das tripas coração e subindo ao pódio da consagração. Porque Portugal aposta nos afilhados quase todos de pais mirrados. E deixa abandonados os filhos da nação como se de bastardos se tratasse.

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