terça-feira, 20 de abril de 2010

A Chuva Pregou-nos uma Bela Partida




Acabado o jantar lá vou numa passeata tomar o café ao centro da cidade, na esplanada onde todos se encontram e outros mais sabem que vão lá encontrar quem desejam. Porque isto em cidades pequenas é como as beatas à janela nos bairros a ver quem passa.
A esplanada estava composta, mas optei por ficar dentro do bar e fugir um pouco ao ruído das conversas rotineiras.
Conversamos uma horita, de vês em quando interrompidos por alguém conhecido, que parava e dava dois dedos de conversa de circunstancia.
Nisto é chegada a hora de regressar e para nosso espanto a chuva esperava-nos logo que a porta envidraçada se abre de lés a lés à nossa aproximação.
Sem guarda-chuva que nos protegesse principalmente à jovem que não podia molhar o cabelo já que de tão fininho que é, cola-se ao rosto e mais parece uma gata lambida. Arriscamos pensando que chuva de quase Verão não chega ao chão e toca a andar agarradinhos um ao outro.
Cinquenta metros a chuva aumenta e já se sente os caleiros a mostrar para que servem.
Como os prédios abrigam o que na rua já lava, pouco aflige e toca a reinar por entre carícias e risadinhas. Mas a chuva parecia fazer lembrar que, não perdes pela demora.
Pronto os prédios foram-se, agora chegamos à Avenida das escolas.
Aí a chuva esperava-nos. Parecia dizer: venham cá meus pombos que vos vou, virar pitos.
E assim foi! Trezentos metros de chuva a cair pelas orelhas abaixo. Levantava o pó do chão deixando aquele aroma no ar e caia certinha, uma chuva mijona irritante e que tinha chegado na pior altura.
Era caricato! Uma hora antes passávamos nesse mesmo lugar de mão dada. Eu de sandálias de Verão, armado em cidadão veraneante.
E agora, bem alargava o passo com os pés a fugir das sandálias, já bem húmidos deslizando para bem fora do cabedal. Com o dedo grande às turras nos paralelepípedos que não tinham nada que sair do buraco deles e que me obrigavam a dar uns gritos de dor e soltar uns impropérios nada usuais.
O cabelo mesmo molhado pingando pelas costas abaixo, nuns arrepios nada agradáveis, obrigavam-me a dar aos ombros para parar o escorrer dos pingos.
Mas ao entrar em casa, senti uma sensação única.
Já não me lembrava de apanhar assim um banho. Acho que só quando era garoto.
Apesar da chuva e das envolvências por ela causadas, vínhamos felizes num abraço carinhoso e de beijos meios molhados, rindo e curtindo completamente sós pela Avenida, numa chuva que abençoa quem se sente bem.

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