domingo, 27 de setembro de 2009

Acabei de Exercer o Meu Dever


Em quem não digo, porque já o disse muitos dias antes!
Dirigi-me à secção número três, das oito que se estendem pela escola fora já que a freguesia onde resido é vasta e o dia corre num entrar e sair de eleitores.
Escola, onde o meu pequenote entrou, para iniciar o segundo ciclo. E as recordações voltaram quando entreguei a minha identificação ao Presidente da Mesa.
Também já fiz parte de Membro de mesa de voto! Durante uns anos de eleições para todos os órgãos incluindo a primeira sobre o aborto. Onde de certeza, foi a mais concorrida pelos jovens, pelas razões sobejamente conhecidas.
E às oito horas, tudo a postos para abrir a secção de voto e receber as primeiras pessoas a exercer o seu dever cívico.
Os primeiros a votar eram os madrugadores, as pessoas já de idade que se levantam cedo. Os que vão à primeira missa numa freguesia com duas igrejas!
De seguida vinham às centenas, a segunda missa tinha terminado e todos se deslocavam para votar.
Recebíamos as freirinhas, na minha zona existe um convento de Irmãs Franciscanas e a meio da manha era uma fila de irmãs, todas vestidas da mesma maneira, sempre sorridentes e apoiando-se umas nas outras, já que elas formavam um grupo de todas as idades.
Passada esta azáfama era tempo de acalmia e oportunidade de ir tomar um café, conversar um pouco e fazer o balanço da adesão da população ao acto eleitoral.
Entretanto com a chegada da hora do almoço, era a altura de decidir quem ia primeiro almoçar, visto que neste período de pouca adesão de eleitores, o mínimo obrigatório de elementos presentes na secção de voto, teria que ser três, entre eles tinha que permanecer o Presidente ou o Vice-Presidente.
O fundamental e dever de todos nós era que, a partir das treze e trinta todos tivéssemos presentes. E assim enfrentarmos a altura mais crítica de afluência de eleitores, porque todos viriam no final do almoço exercer o seu direito de voto e assim poderem no fim, dar a sua voltinha.
Era a loucura total no bom sentido claro!
No espaço de duas horas votavam mais eleitores, do que nas horas restantes. E nós os cinco num frenesim diabólico, dávamos baixa dos eleitores nos cadernos eleitorais, no momento em que o presidente da mesa ao receber a identificação do eleitor lia o seu nome e o número de eleitor.
Como cada elemento representava uma força política candidata, éramos fiscais ao mesmo tempo do trabalho de cada um. E uma falha poderia dar uma queixa por escrito, o que era sempre um transtorno para todos os componentes da mesa.
As horas avançavam e o encerrar aproximava-se. Lá vinham os atrasados a correr, os chamados indecisos que de certeza passaram o dia a dizer:
“Vou? Ó, não vou! Ó vou!”
E acabam alguns por se decidir já no final do escrutínio.
E pronto dezanove horas encerramento nacional da votação!
Abre-se a urna para contar os votos. Todos estão curiosos para saberem quem ganhou. O avolumar de boletins dá o primeiro indício. Cada monte representa um partido e no final, o maior era o vencedor mesmo sem a contagem final. O que amolecia logo o entusiasmo dos vencidos.
De realçar que mesmo depois destes já longos anos de democracia que trouxe as eleições livres, ainda se verificava eleitores que não sabiam votar, ou seja assinalavam a cruz, fora do quadrado o que tornavam o voto nulo e outros enganavam-se na escolha da força política, riscavam o quadrado e só depois assinalavam a cruz correctamente, o que não podiam. Deviam pedir novo boletim, para aí sim votar na sua escolha. E registávamos casos extremos, embora de número muito reduzido de eleitores que pura e simplesmente rabiscavam o boletim.
O final aproximava-se com o afixar dos resultados na porta de saída da secção de voto. Para que o povo interessado registasse os resultados apurados e tirasse as suas conclusões!
Voltávamos a casa já as televisões projectavam os vencedores e cada um caminhava com sensações diversas. Onde a noite era a acompanhante, numa Freguesia solitária já que os seus milhares de habitantes estavam presos ao ecrã, acompanhando o desenrolar dos resultados, num País que tenta arranjar espaço numa Europa que nos está a fugir por entre os dedos.

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