terça-feira, 15 de setembro de 2009

As lembranças ainda Frescas Enquanto o Bronze se Mantêm



Lembrei-me agora de uma ida à praia e ao chegar ainda com os olhos meio abertos meio fechados, depois de uma noite quente e metido com três barrigudos contadores de histórias de tempos idos. Onde se mistura as diabruras de um tempo a roçar a saudade tantos foram os episódios rocambolescos e a deixar um aperto no coração para aqueles que já se foram numa ida sem volta, que obrigava a beber a fresquinha como quem bebe água e enquanto eu fiquei-me pelas não sei quantas, eles dobraram as minhas. Que acompanhadas pelos pistachos que quanto mais se comem mais se quer, levou as horas a passar e a madrugada a chegar a passo apressado.
E de toalhita ao ombro, desci as escadas do paredão e encontrei o passadiço em madeira que me levou areia fora, a escolher o melhor local da praia para curtir um pouco de sol e satisfazer com uns chutos na bola o puto armado em jogador, numa idade em que ainda se pode sonhar em ser jogador de futebol e fazer disso uma profissão.
Mas a praia estava diferente!
A maré estava mesmo baixa e mostrava um areal expansivo que só acontece raras vezes e destapou as rochas, dezenas delas a descoberto.
Pareciam ilhotas minúsculas onde só as gaivotas podiam aproveitar para debicar algum peixe ou molusco, que tivesse ficado surpreendido com a baixíssima maré e se tornasse alimento para essas aves que tudo comem tanto no mar como em terra, onde já se açambarcam dos restos das comidas e já se familiarizaram com os lugares onde os podem encontrar, no meio do turbilhão citadino.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o espectáculo da apanha do mexilhão. Onde dezenas de banhistas de faca na mão, lá esgravatavam os mexilhões do tamanho da palma da mão.
Eles eram tantos que davam para todos!
Faca numa mão, na outra, o balde que os pequerruchos usavam para construir os castelos imaginários na areia húmida, serviam de recolha dos mexilhões e desde manhã bem cedo lá estavam homens, mulheres e famílias inteiras na apanha do dito cujo, que iria encher um panelão de mexilhões que bem preparados era uma iguaria e pêras.
E naquelas marés bem baixas que levavam o mar para bem longe e ofereciam um espaço de areia tão lisa. Palco privilegiado de grupos que se gladiavam em encontros rijos de futebol, até que a maré subia e reclamava novamente o seu espaço. Obrigando os banhistas a recuar e a acotovelarem-se na imensidão das barracas, até que o mar terminasse a sua fúria e voltasse a brindar os banhistas com o espaço, para que homens, mulheres e crianças. Pudessem caminhar, banhar-se e mergulhar naquele mar que nunca acaba num vai e vem de marés ao sabor da lua que quando caí à noite, monta vigilância para que a terra não se afaste do espaço que lhe destinaram numa galáctica imensa, mas cada um no seu cantinho.

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