sábado, 19 de dezembro de 2009

A Manhã está Fria como as Expressões dos Portugueses



O sol tarda em abrir e o frio aproveita-se para enregelar os corpos que por mais agasalho que carreguem não à meio de aquecer quem vai dentro dele.
Levantei-me cedo para cumprir um ritual familiar quando se tem pais já com mazelas próprias de uma idade que não perdoa certos exageros de uma época em que tudo era possível e toca a usufruir de momentos que a vida proporciona.
Eles já se arrastam em choradinhos e lamentações, numa mistura de chamar a atenção e de desconforto. E claro tenho que andar com eles ao colo e conforta-los, que é a minha obrigação e faço-o com carinho.
E perante este frio, é um martírio para eles terem que se levantar cedo e ainda por cima correrem para um exame rotineiro numa avaliação necessária porque hoje nada pode ser deixado ao acaso.
Andei uns quilómetros até à clínica. Os campos cobertos por uma camada branquinha que dão um espectáculo lindo. Lindo mas frio!
Ao longe, aprecio um vasto prado, com as vaquitas pastando. Umas separadas das outras, desenhando formas caricatas que salpicam o prado de cores pitorescas, onde o preto e branco mais comum se junta ao bege de algumas e ao preto como a noite de outras mais.
Vou devagar e lá estão as dezenas de vaquitas remoendo, remoendo. Arrancando a erva húmida a cada passo, para encher aquele enorme estômago que tem espaço para devorar um campo inteiro, seja de que tamanho for.
Agora o sol aparece mais sorridente e levanta a neve que pousou em tudo o que é sítio.
É nesta fase que o frio mais se sente e as poucas pessoas que deambulam pela zona onde vivo, encolhem-se nos casacões, muitos deles já coçados pelos anos, esperando pelo Natal para a chegada do novo. E caminham em passo lento nas tarefas diárias de um sábado que cheira a Natal já bem próximo.
A música natalícia ecoa pelos postes de iluminação citadina. Ajuda a afastar o frio e vai alegrando um pouco a certeza de que o sol não tarda e o dia será agradável.
Enquanto espero para ir buscar os velhotes, tomo um cafezito e num abrir e fechar da porta do estabelecimento conhecido, curto as pessoas com aquele ar de consolo quando sentem o calor do espaço e a alegria em saborear a bica nos dois dedos de conversas triviais com o amigo de circunstância.
O frio é necessário! A época assim o exige. Mas para quem não o suporta é um massacre inevitável.
São luvas num lado. Telemóvel no outro. As chaves em cima das carteiras, que nesta crise acentuada transportam o subsidio que desaparece nas compras de Natal obrigatórias.
O cafezinho fumegante entra pelas narinas e aquece o rosto ainda vermelho do frio.
Alguém me cumprimenta e oferece-me uma caixita de chocolates, num espírito natalício que agrada a quem recebe.
Merece dois dedos de conversa e ajuda a fazer horas para o fim que me levou a pôr-me a pé bem cedo.

Os chocolates são a minha perdição e enquanto escrevo, sinto que vou devorar a caixa toda.
São uns atrás dos outros.
Por fim paro! E lá vou eu a caminho de trazer de volta os meus pais, para a sua vida, que sei que me espera daqui a uns anitos.

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