domingo, 21 de fevereiro de 2010

Catastrófico Demais Para ser Verdade


A Madeira essa Pérola do Atlântico de clima ameno com o sol a brilhar todo o ano, visitada por turistas ávidos pelo clima e pelo calor humano que se respira naquele pedaço de terra plantado no meio do oceano. Adormeceu depois de mais um dia de cativar os turistas que enchem os hotéis e trazem o dinheirito que alimenta toda aquela gente que vive do turismo como a fonte de toda a sobrevivência.
Mas adormeceu num sossego que antevia um despertar harmonioso para mais um dia de espalhar toda a beleza da ilha pelos turistas e não só, como uma recordação que obriga a lá voltar.
Só que…! O despertar foi o mesmo que se aperceber do fim do mundo!
A Natureza ameaçou varrer parte da ilha!
Descarregou toda a sua violência, numa chuva diluvial sem precedentes, sob aquele botão preto no meio de um lençol enormíssimo tão azul como o céu.
A chuva chegava primeiro ao alto da ilha numa violência sem perdão. Deslizando pelas encostas rudemente, cheia de uma ferocidade que castigava tudo o que lhe aparecesse pela frente e enchendo rapidamente as ribeiras, onde a água galgando as margens estendeu-se como tentáculos gigantescos e destruiu tudo o que fosse obstáculo.
As estradas viraram acessos às águas lamacentas vindas dos altos da ilha e numa velocidade vertiginosa, tudo era derrubado. E num cenário dantesco, carros eram arrastados como se tratasse de bolas rolantes. E dentro deles os condutores e ocupantes viraram vítimas nuns segundos arrepiantes, sem ninguém poder fazer nada e pior: sem ninguém se aperceber tamanha a rapidez com que as águas autênticas feras esfomeadas acabavam com a vida de dezenas de pessoas sem tempo para pedir ajuda e serem socorridas.
E só o oceano fazia parar essa enorme avalanche de água e restos de tudo que uma cidade turística tem para oferecer.
Oceano azul, que ficou manchado pela água lamacenta putrefacta que tornou a baia funchalense a cheirar a podre e a morte trágica. Que fez derramar lágrimas sem fim dos sobreviventes que atónitos viravam-se para o céu pedindo responsabilidades a Deus que aí habita.
A Madeira que todos um dia irão visitar ficou um caos, onde tentamos ajudar sem lá podermos chegar.
Revemos aqueles momentos vezes sem conta. Com a água barrenta de uma fúria tão medonha que afogava qualquer indicio de vida, estendida desde as alturas da ilha até ao abraço manchado no oceano azul, mostrando que a catástrofe derruba em minutos aquilo que demorou séculos a erguer. E ficamos minutos em silêncio sem uma palavra para amenizar toda aquela dor.
Agora que a dor assentou nos nossos corações, nós que estamos no seco do continente, teremos que fazer algo, para levantar aquela ilha tão bela e tão macia que se abre a todos nós como as flores que a enchem de encanto e lhe dão a beleza que se espalha pelo mundo inteiro.
A madeira vai recuperar desta feroz mordidela que a natureza lhe pregou mesmo junto ao seu coração. E logo, logo. Sorrirá para nós numa limpeza brilhante que apagará os vestígios de um dia mau demais para ser verdade.

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