domingo, 16 de agosto de 2009

A Festa Que trouxe à Memoria Recordações Frescas e tão Distantes



Juntei-me com toda a família, numa festa religiosa de uns sobrinhos que estão longe do nosso contacto mas pertíssimo dos nossos corações.
A festa foi bonita no local onde toda a família nasceu e hoje está repartido pelos três irmãos mais novos e bem no meio foi o nosso encontro, na casa do mais novo.
O mais novo deixou-nos há dois anos, num mar de dor numa família numerosa e muito unida. Tão novo que foi tão fácil a morte corroer-lhe o corpo num final angustiante que deixou de luto uma família que lutava bem longe deste País, para ter uma vida afortunada e de tão longe o condenou a um fim tão duro que de lá regressou nos braços de Deus, que deixou o corpo perto de nós e levou a alma para o céu!
Por isso, dois anos depois voltamos a juntar-nos na casa do cunhado mais novo, para a festa dos seus dois filhos, ainda na idade de chamar pelo pai que do céu vela por eles e fortes como somos onde a união faz a força, tratamos de recordar coisas felizes, num local onde todos nasceram e como 14 filhos foram criados, numa época de grandes dificuldades.
E começando pelas entradas, onde cada um se servia do que lhe apetecia. Alguém recordou que nesse mesmo local onde nos encontrávamos, existia uma eira, onde se malhava o centeio e onde os mais pequenotes brincavam uns com os outros (eles eram seguidos) nas longas tardes de Verão até a noite os levar de volta às camitas com a barriguita cheia do que havia e o campo sempre dava o alimento para que eles pudessem adormecer sem a barriguita dar horas.
Com o fim das entradas, cada um escolheu a mesa e a companhia que mais lhe agradasse e depois de se ajustar os guarda-sóis para que a sombra tapasse um sol que queimava os braços e os ombros dos que ainda aparentavam o branco característico de pouca praia gozada. Recordou-se as árvores de fruto que todos eles gostavam de subir para directamente da árvore comer e comer até a barriga não ter espaço para mais.
E eram árvores de toda a espécie de fruta. Nespereiras, Cerejeiras, Macieiras, Pereiras. Enfim num terreno onde hoje estão três vivendas, com espaço para outras tantas, existia quase tudo para alimentar uma família que parecia um rebanho.
Terminado o primeiro prato, recordou-se o percurso das mais velhas. Afortunadas naquela época, a matriarca como era professora, optou por frequentarem o colégio e viveram assim um período que nessa época não era para qualquer um.
Como na minha mesa estava uma, hoje já com sessenta anos, foi um regalo ouvir histórias de colégios de três e o seminário do rapaz mais velho.
Entretanto aparece o segundo prato bem perto do meu nariz e de volta às recordações de um tempo já distante, fico a saber que a família leva uma volta na vida, tudo por causa da doença da mãe daqueles filhos todos e toca a que toda aquela gente se vire na procura do ganha-pão, já que o que vinha da força daquela heróica mulher, tinha findado devido à doença que iria anos depois leva-la para bem longe da vista de tantos filhos e alguns genros.
Os jornaleiros foram embora já que não havia dinheiro para lhes pagar. Viraram os filhos os jornaleiros diários.
Outros foram trabalhar bem cedo, para desgraça da moribunda que tudo fazia, para que todos estudassem na esperança de um futuro melhor. Que valha a verdade hoje todos gozam de uma vida sem necessidades e rodeada de felicidade.
A tarde já ia longa e o fresco do anunciar da noite que não tardava, chamava os presentes para o regresso, que para alguns ainda se revestia de vários quilómetros.
Findadas as sobremesas e o café indispensável nestas ocasiões, ainda se foi a tempo de enumerar os casamentos de cada um. Começando os mais velhos com a boda acarinhada em casa, numas matanças do porco e meia vitela, que enchiam até à boca os convidados e deixavam a vizinhança curiosa e a espreitar pelas frinchas do portão, autentico marco gigante da entrada da propriedade.
No final já a noite anunciava a sua entrada, terminou-se esta festa com o famoso caldo verde, para temperar o estômago, numa tarde de mais de oito horas de convívio, onde olhamos para a geração que levará o nome desta enorme família pelos anos que aí vêem, a dormitar nos ombros dos pais depois de tantas correrias e brincadeiras sem fim.

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