segunda-feira, 5 de outubro de 2009

É Feriado Mas Não é Domingo




Deitei-me tarde já a madrugada batia nas janelas da sala onde repousava, vendo um filme que retratava um herói que o tempo guardou na historia. Para que as gerações se apercebam que no século passado existiu esse e alguns mais, que tudo deram por uma causa. Por um País. E por um amor.
E adormeci a pensar nos heróis dos dias de hoje!
Heróis que se transformam em pó num abrir e fechar de olhos, já que as suas performances se perdem em actos mais empolados do que propriamente em abnegadas causas e que só servem para alimentar uma industria ávida por lucros materiais e que não olham a meios para os obter.
Levantei-me cedo, fui obrigado! A barafunda familiar a isso obriga.
Custou-me porque estava tão bem. No meio de sonhos, porque uma pessoa sonha até morrer e estes eram tão bonitos e tão reais que me agitavam graciosamente de encontro a uma porta envidraçada que mostrava o que ia lá por dentro e eu caminhava ao seu encontro de mãos estendidas pronto a agarrar o que me ofereciam.
Caminhava de passada firme e resoluto, porque sabia que não podia desperdiçar esta oportunidade, única e que podia desaparecer num clic se entretanto eu oscilasse.
Por isso lá estava perto dessa porta envidraçada e tão transparente que eu senti dificuldades em descobrir por onde entrar.
Sabia que a porta existia numa imensidão de vidro e já contemplava o que me aguardava do outro lado, mas estava difícil descobrir o raio da porta.
Tacteava, tacteava para encontrar a ranhura no vidro, sabendo que era aí que se encontrava a porta, mas nada!
Nisto o sonho evaporou-se e a janela abriu-se de par em par mostrando o dia cinzento e a ordem para levantar.
A água do banho estilhaça os sinais de ressaca e ainda aturdido por não conseguir abraçar o que estava para além da porta envidraçada enfrento a manhã a ameaçar chuva e respiro profundamente este ar que me revigora os pulmões e caminho calmamente de encontro ao café mais longe para poder andar um pouco e despertar ainda mais.
O café é uma bênção!
Dou uma vista de olhos ao JN, saboreando três bolachas sortidas recheadas de chocolate que é a minha perdição.
Regresso a casa e a chuva já ameaça, vinda de um céu escuro cheio de nuvens negras que se esbarram umas contra as outras e produzem um som estridente que abafa os megafones da Campanha Eleitoral que já irrita.
Só que estou desprevenido e a chuva envolve-me num abraço que dispenso e corro, corro.
Estou a quinhentos metros de casa e a chuva acompanha-me a cada passo.
Os raios clareiam um pouco a manha escura e ouve-se o estampido ainda longe, para causar pânico.
Mas chove com a graça de Deus, já dizia a minha avó.
Abrigo-me na entrada de um prédio, não tenho paciência para esperar que ela pare um pouco. E outra corrida e outra entrada para me abrigar.
Pronto, faltam cinquenta metros já descortino a entrada e corro a bom correr. Parece que quanto mais corro mais me ensopo.
Estou bem molhado quando chego à entrada e olho por mim abaixo e interrogo-me:
Pareço os putos que deambulam por aí nas entradas dos prédios e tudo o que der. Para curtir os skates, numas correrias infernais, todos ensopados que os longos cabelos já se colam ao crânio. Cruzei-me com alguns.
Podia ter esperado e até tomado mais um café para que a chuva parasse. Tinha tempo, todo o tempo do mundo!
Já há muitos anos que não apanhava uma molha assim e cá para nós limpou-me de maus pensamentos e baptizou-me para encontrar a fé, que anda no ar.
Entro em casa de mansinho, descalçando-me à entrada para não molhar o que limpo acabou de ficar e não irritar quem já à algumas horas anda a labutar.

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