segunda-feira, 13 de julho de 2009

Convívio Familiar Abrilhantado pelo Festival dos Caças



A noite já vai longa! Há doze horas que saí de casa e agora apresto-me para lá voltar.
Galgo a auto-estrada na fila da esquerda onde já venho há alguns quilómetros, atrás de um cunhado meu. Não o quero deixar fugir. Viemos juntos iremos de certeza voltar juntos para casa.
Centenas de carros fogem à portagem da A1 e cortam em Estarreja, assim poupam alguns cobres e como eu penso assim, centenas também assim o pensam e lá vamos entupir a entrada da portagem rumo ao Porto.
Começa a chuviscar o que não augura nada de bom para continuar a viagem. Mas lá sigo, bem atrás do António (meu cunhado), que bem lançado desembaraça-se dos mais renitentes em acelerar e pela faixa da esquerda vai abrindo caminho até chegar ao destino.
Dez horas antes chegávamos a Coimbra para comemorar o aniversario do cunhado que sendo de Coimbra casou com uma rapariguita agora mulher bem sucedida que nasceu bem no coração do Minho.
Como somos uma família de muitas cabeças, onde nos deslocamos é uma romaria que se instala. E lá nos encontramos bem no interior de Coimbra, com um sol quentíssimo e uma sede que só tinha olhos para umas cervejas fresquinhas no acompanhar do presuntinho de pata negra à nossa espera enquanto a restante comitiva não chegava.
O aniversariante chega com os leitões ainda a fumegar. São cinco os bichos e as mulheres sem nada para fazer a não ser lamechar sobre o quotidiano, dão inicio a esventrar os pobres bichos, que nasceram numa pocilga caseira, sem tempo de descobrirem o mundo que lhes calhou em sorte e já chamuscados e hirtos aprestam-se para serem devorados por bocas famintas, vindas de longe para os anos do dono da casa.
A família reunida, onde já se juntam três gerações sem patriarcas já falecidos, mas com treze filhos, que já têm filhos e que por sua vez já lançaram ao mundo os seus descendentes. Enche uma sala de lés a lés e numa confraternização animada, conversa-se desta crise madrasta para uns e limitada para dois ou três, com os mais bem sucedidos a lamentarem-se do que não vendem e do que assim sendo, não podem ganhar.
Mas o tempo é de alegria e lá juntamos os mais pequenos na piscina recente (vim a saber terminada bem a tempo da nossa chegada) para se refrescarem e assim espantarem o sono e a irritação desse desconforto.
Ao mesmo tempo assistíamos bem lá no alto, às acrobacias de quatro caças num festival na vila de Cernache, bem perto do nosso poiso. E num vai e vem de fumo e cambalhotas num céu a radiar de sol, lá surgiam do nada, detectados pelo som estridente dos seus jactos que pareciam deslocar os nossos ouvidos para bem fundo do cérebro a esconderem-se do inimigo rancoroso que se aproximava.
De longe a longe numa linha que cruzava o espaço de um meio circulo bastante vasto numa velocidade mais contida, passavam por cima das nossas cabeças e numa espécie de agradecimento por dúzias de mãos no ar como saudação, soltavam o fumo branco numa linha vertical que se expandia, dando a sensação de uma enorme toalha branquíssima, pronta a cobrir a propriedade onde nos encontrávamos numa espécie de mascara gigante para nos resguardar dos vírus que nos assolam de uma forma galopante.
Ainda a rever estas horas bem passadas no meio de gente que compõem uma família numerosa e graciosa. Estou prestes a fazer os últimos quilómetros que me separam de casa por entre uma cidade já adormecida talvez embalada pelos filhotes no banco de trás, que vieram toda a viagem num sono profundo (a piscina cansa os pobres anjinhos) e finalmente entro na garagem a faltar uma hora de um novo dia, cansado mas feliz.
Depois de uns minutos a relaxar, encosto-me à minha mais que tudo e aí entrego-me às carícias de um ser, que me elevam no céu azul, como um F16 em dia de festival, mergulhando nas suas entranhas num voo picado que quase me despenham num coma profundo de deleite.

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