sexta-feira, 3 de julho de 2009

O Dinheiro do Dentinho Pagou a Despesa e Exultou a Sensibilidade do Filhote



Terminei o jantar de polvo com batatinhas embelezado com ervilhas e cenouras, comprado à saída do mar bem junto aos pescadores, que todos sabemos enfrentam o mar traiçoeiro, para pescar meia dúzia de quilos de peixe que mal chega para pagar o gasóleo quanto mais para sustentar uma família bem composta por bocas esfomeadas e miséria estampada.
Mas isso são contas de outro rosário e voltando ao fim do meu jantar, envolto em harmonia e de conversas de inicio de férias para os garotos. Desço à rua para tomar um café na esplanada e dar dois gelados aos filhos sempre prontos a ajudar no arrumar os pratos e deixar a cozinha fresca para o pequeno-almoço do dia seguinte, quando a promessa é um gelado.
A esplanada estava bem composta, jovens de um lado sempre amarrados aos telemóveis e de cigarro na boca tipo James Dean.
Casais a saborear o fresco da noite num céu estrelado e claro. E outros mais, passeando os cãezinhos de trela com o comprimento ao jeito do dono, bastando para isso um carregar do pichavelho e lá ia, ou era forçado a vir o canídeo, consoante as peripécias dos obstáculos.
Passados uns bons minutos, decidimos voltar para casa e quando me preparava para pagar, o meu filhote disse-me que já estava pago.
-Está pago? Quem pagou!
-Fui eu! Disse o puto.
-Tu! Quem te deu o dinheiro!
-Foi o dentinho.
O dentinho do miúdo caiu e seguindo uma tradição já muita antiga, os miúdos punham o dentinho debaixo da almofada e quando acordavam em vez do dentinho aparecia uma moeda.
Não foi uma moeda que surgiu debaixo da almofada do meu pequenote, mas sim uma nota de cinco euros.
E no momento que saíamos para ir ao café, ele foi ao seu esconderijo onde guardava a nota e meteu-a no bolsito.
Enquanto conversávamos ele foi pagar e pacientemente esperou que eu puxasse pelo dinheiro para pagar. E cheio de importância disse que foi ele que pagou com o dinheiro do dentinho.
Fiquei perplexo com o gesto do miúdo!
E juntos regressamos abraçados e ele sempre a dizer: “tu pagas sempre os meus gelados e as minhas coisas. Agora foi a minha vez de pagar o café da mãe, o teu e os gelados da mana e o meu”!
Que feliz vinha o meu filho!
Que satisfação transpirava daquele rosto ainda de menino de dez anos.
Dez anos tão puros, tão belos e tão queridos!
Um filho que é um amor, enche-nos a casa de energia e hoje o Duarte com dez anos é a nossa referência, porque é o mais novo e está por isso mais tempo connosco.

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