sexta-feira, 31 de julho de 2009

A Praia da Pulseira da Sorte



Caminhava naquela extensão de areia, sem ninguém com quem cruzar. Só via areias brancas e fofas, conchas, pedras e dunas à minha frente. Metros e metros numa distancia sem fim, mas calcorreada ora húmida para deixar a marca da pegada. Ora seca e quente mas tão fina que massajava os pés e nuns chutos de bola invisível a jogava céu dentro para me cair pela cabeça a baixo num banho de areia, até o cansaço me despertar para o direita volver.
A paz que me envolvia só era quebrada pelo bater das ondas um pouco ao longe vindo cobrir os meus pés, como me chamando para sentir a frescura da sua água que bem longe da minha terra, a sua temperatura convidava-me a lá permanecer tempo infinito tamanha era a sede de mar. Porque ainda bebé já gatinhava nas pocinhas que o mar deixava ao recuar na baixa maré, num mês de praia que todos os anos a família fazia questão de o transformar nas férias merecidas depois de um ano de consumições e algumas desilusões.
De quando em vez encontrava um amontoado de mesas resguardadas do sol pelos choupos de palha. Não mais de uma dúzia, com um barzito característico decorado com pinturas de graffiti, onde se eleva o surfista conquistador que pede boleia às ondas para planar no seu dorso enquanto elas não rebentam e vão beijar a areia num enlace que ninguém sabe o que lhe diz.
Aí era o descanso do guerreiro e o matar a sede num coco tão fresco que entrava directo, garganta abaixo. Ouvia-se casais jovens estrangeiros, num ardor de núpcias, onde a paixão não era contida e dava azo a que turistas como eu, num Brasil imenso de calor que inchava as hormonas assassinas tipo piranhas prontas a devorar o corpo que não nos pertencia, mas que ali bem perto era já lambido meio tapado, meio aberto para olhos esfomeados de…… toca a correr para a água! Refresca a mente e acalma a ferramenta!
Depois de já não distinguirmos (éramos três cunhados) o local do nosso poiso já que a curva da imensa praia já escondia o ponto de partida, resolvi regressar.
E a cada cem metros de caminhada e dez minutos de mergulhada, lá encurtávamos a empreitada.
Deslumbramos bem ao longe um ser. Carregava as famosas camas de rede feitas á mão, por aquelas mãos calejadas e amolgadas, onde a pele se comprimia com o osso e tornava os dedos tão magros e tão secos.
Compramos uma sem regatear. A pobreza estampada naquele rosto não exigia regateio e lá foi o carregador de camas de rede na busca de alguém que por aquelas bandas andasse a gozar as suas férias.
Já cansados, mas cada vez mais maravilhados com aquele mar tão morno, que obrigava a permanecer com a água até ao pescoço, ouvimos um chamamento a cinquenta metros de nós, bem metidos mar dentro.
Era a indígena a gritar, carregada de lantejoulas e outras coisas mais!
Saímos da água ainda confusos, com tamanhos gritos. Os turistas eram escassos naquela praia (nesse momento éramos só nós) e a jovem tinha que aproveitar a ocasião e tudo o que viesse á rede era peixe. E nós caímos!
Parecia uma criança, dava-lhe quinze anos, mas ela tinha vinte e dois. Não era bela que adoçasse o apetite. Mas tinha bunda de levar um homem ao céu.
Mas não era para aí que estávamos virados, nem ela assim desejava.
No meio de tanta quinquilharia, escolhi uma pulseira. Pensei que era a melhor maneira de simbolizar este dia e a praia que de certeza não mais veria.
Regateie a pulseira mas em vão, paguei o que estipulou e fiquei encantado com aquele tom de indígena. Ela disse que me ia dar sorte e eu pensei que era sol de pouca dura.
Hoje ainda faz parte dos meus adereços diários. E a sorte felizmente vai comigo para todo o lado!

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