terça-feira, 7 de julho de 2009

Os Amigos Da Casa do Quintal


Vivi os primeiros anos do meu casamento, numa casa já com alguns anos e muito modesta. Era do pai de um meu amigo e estava desabitada.
Eu acabado de casar foi uma dádiva esta casa!
Peguei no meu irmão e no meu pai e em dois dias pusemos a casa com outra cara!
Fresca! Pudera, acabadinha de pintar. Lustrada de uma ponta a outra pela comunidade familiar.
E lá fui viver o começo de um casamento que prometia.
Situava-se numa rua de bons vizinhos e sem o mínimo de confusão, era uma tranquilidade salutar.
Acolheu uma paixão que ainda perdura e abrigou das intempéries nos bons anos que lá passei dois filhos, um rapaz e uma rapariga que era a felicidade de um casal e a alegria de uma rua.
Adorava aquela casa e o que a rodeava!
Um quintal com um grande dióspireiro que de tão carregado de dióspiros enchiam a terra de um colorido alaranjado que era a delicia dos galináceos de um galinheiro a meias com o vizinho de cima. E como diz a minha esposa. “ Habito o rés-do-chão, como não tinha pai nem mãe, fiz dos vizinhos do primeiro andar a imagem dos meus”.
E duas laranjeiras que pintavam de um vermelho alaranjado, o verde carregado das folhas que baixotas faziam com que os filhotes fossem arrancar as laranjas com uma alegria estonteante e jogassem à bola com elas. Que davam sumo como tetas de vaca, ensopando o estômago da canalhada.
Também existia um limoeiro com limões quase todo o ano para temperar as carnes e peixes. E para dar gosto às limonadas bem frescas no Verões canículas, que colavam as ideias e a vontade de nada fazer.
Com espaço para criar meia dúzia de galináceos que deambulavam por tudo quanto era sitio na procura de uma erva, ou de uma minhoca que descuidada deitava a cabeça de fora. Sujavam tudo por onde passassem, mas era um regalo os ovos que davam e o arroz de cabidela que me enlouqueciam. Mais as necessárias canjas para os miúdos que enchiam as babetes de restos de massitas e as bocas gordurosas.
Para além disto, é preciso não esquecer a enorme utilidade para as brincadeiras dos miúdos! Fundamental devido a nunca estarem parados e sempre virados para as pequenas traquinices.
Era neste espaço que eles saltavam, rebolavam. Se enchiam de terra. E quase caiam para o lado de tão cansaditos que ficavam.
O virar de página veio quando os miúdos foram para a escola. Um entrou na primária e a outra para o colégio e nós entramos num apartamento novo!
O apartamento é fantástico! Está localizado, na zona da cidade a cinco minutos de tudo o que necessitamos. Seja escolas para os miúdos, local do nosso trabalho. Repartições bancárias, de finanças. Posto médico, hospital, etc.
Tem vista para duas frentes! De um lado vê-se a linha do comboio ao longe como referencia. E no outro, deparamos com a enorme rotunda escoando o trânsito para a saída da cidade.
Já cá vivo á alguns anos, entre elevador e uma dúzia de famílias, sem queixas de qualquer espécie.
Mas a cada passagem pela rua da casa velha, dá-me uma nostalgia de tempos que já não voltam. Os vizinhos continuam e de tempos a tempos fazemos umas festitas. São amigos que perduraram eternamente, num tempo já pouco dado a grandes amizades numa Sociedade seca de emoções.

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