sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Temos Tudo e Nada, no Mesmo Momento




Olha, eu nada tenho!
Estou a varrer a rua por onde andei trinta anos!
Onde conheço como as palmas da minha mão as tampas das águas, muitas delas quebradas, mostrando num orifício do tamanho de um braço, onde um pé distraído pode se enfiar num desastre de esfolar uma canela. Como acontecia em noites frias e chuvosas, com o sono ainda pregado ao corpo franzino, que enregelado seguia o destino que alguém traçou, ainda a necessitar de armadura para se resguardar do precoce crescimento.
Onde conheço todo o percurso em passeios com as entradas em pedra das casas do bairro, sem desconhecidos já que os rostos eram sobejamente conhecidos. Que no alto Verão trazia as pessoas para a treta já que a noite quente não deixa ninguém pregar olho.
Onde conheço os automóveis da vizinhança que estacionavam em cima dos passeios, obrigando a desviar-me dezenas de vezes para deixar a rua que termina no fundo da descida. De encontro á estrada central da avenida que termina e se inicia numa rotunda. Pudera!
Numa de deixa andar que assim é que o barco navega!
Navegou em mares sem sobressaltos, ora em passeios de recreio. Ora em fainas pesqueiras para sustento de pais irmãos. Mais tarde filhos e alguns amigos que por cá passaram, em momentos que ficam gravados nas entrelinhas de uma vida.
Era um, deixa andar ao sabor do vento nada agreste por estas paragens, que bastava uma vela poderosa, para o endireitar rumo ao rambe, rambe diário.
Diário de muitos anos, onde dias e dias a fio nada acontecia. Dava a sensação de que o mundo tinha parado, como a idade que não dava sinais de avançar.
Agora o barco encalhou e é necessário levantar-lhe o casco!
É bem verdade! A bonança deu lugar à tempestade que atirou o barco borda fora e depositou-o à entrada do acreditar no impossível.
Agora o impossível deu mesmo lugar a tal e toca a reunir as forças para combater as fraquezas e mesmo dentro da mesma rua, que calcorreei durante trinta anos. O horizonte deixou de ser o mesmo e outra luz se ilumina para, granjear energias e ir à luta, enfrentando oposições que irão dar lugar à construção da cadeira onde serei recebido pelo destino.
A vida abre as portas dos desafios! O segredo é descobrirmos a porta certa, no momento certo.
Se assim for, ela abrisse-a de par em par, para dar as boas vindas a quem vem lá!

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